LULA: ADEUS OU ATÉ LOGO
PAULO AFONSO LINHARES
Lembra o poeta italiano G. Leopardi (1798-1837) que "[...] Ninguém se sente tão completamente desiludido com o mundo, nem o conhece tão profundamente, nem o odeia tanto que, observado por ele com benevolência num instante, não, se sinta em parte reconciliado com ele". É justo com essa percepção que pode ser observada as nuances daquilo que já se pode mencionar agora como a "Era Lula", que se finda com esse ano da graça de 2010. Sim, Luiz Inácio Lula da Silva, o carismático nordestino que governou este país nos últimos oito anos, deixa a presidência da República com índice recorde de popularidade, segundo aferição de múltiplos institutos de pesquisa de opinião. Claro, essa instigante performance tem servido de pano de fundo para muitas especulações sobre a permanência de Lula no poder ou o seu breve retorno à suprema magistratura da nação, à presidência da República, porquanto a presidenta Dilma Rousseff apenas estaria, nos próximos quatro anos, "guardando o lugar de Lula". Nada disso.
Aliás, em recente aparição pública, o próprio Lula cometeu ato falho que pretendia voltar em 2014 à presidência. Claro, essa é daquelas coisas que as pessoas até podem desejar, mas nunca dizer. Mesmo para o mais popular líder político da história republicana mais recente, Lula não tinha outra saída senão desmentir suas próprias afirmações e ficou o dito pelo não dito. Aliás, a emenda foi pior que o soneto, pois Lula, noutro ato falho até compreensível pelas tantas emoções desses estertores do mandato presidencial, afirmou que a presidenta Dilma Rousseff seria sua candidata à reeleição em 2014. Não precisava chegar a tanto, pois nesse próximo quadriênio muita coisa vai acontecer.
As especulações não param sobre o destino do ex-presidente Lula e o que fará doravante. Ora, as opiniões são as mais díspares e os disparates propriamente ditos são enormes, como é o caso da afirmação de que "Lula agora vai ser o presidente da ONU", cargo para o qual até já fora convidado. Nada disso, a começar pelo fato de que a Organização das Nações Unidas não tem um presidente pois é dirigida executivamente pelo Secretário-Geral que, em regra, é um diplomata de carreira. Claro, fora da presidência da República dificilmente Lula ficará na completa inatividade, devendo participar de missões internacionais com outros ex-chefes de Estado ou personalidades famosas do mundo dos negócios e das artes, a exemplo de Nelson Mandela, Bill Clinton, Jimmy Carter, Bill Gates etc., além de curtir merecidamente sua aposentadoria, ele que viveu intensamente a atividade política nos últimos 30 anos, certamente dedicando pouquíssimo tempo para a família e mesmo para si próprio.
Lula deixa a presidência da República laureado, em todos os sentidos, pois nunca o Brasil caminhou tão bem como nesses virtuosos 8 anos de mandato do ex-presidente Lula. Por isso, ele não precisa pleitear mais qualquer cargo eletivo, retirando-se com a subida elegância de um Mandela que, entendendo como cumprida a sua missão para com sua pátria, optou pela sombra que agasalha os justos. Claro, Lula pode ainda fazer muito pelo Brasil, mas nunca à frente do governo da República ou coisa que o valha. Cumpriu brilhante e surpreendentemente a sua missão, para gáudio da civilização nordestina. Ave, Lula.
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