Pesadelo nuclear
de Fukushima não acabou
Heitor Scalambrini Costa Professor da Universidade Federal de Pernambuco
Heitor Scalambrini Costa Professor da Universidade Federal de Pernambuco
A tragédia ocorrida no Japão em 11 março de 2011 completa um ano, e
colocou em evidência mais uma vez, as grandes questões que ainda não
foram respondidas pela área nuclear.
A primeira delas é o alto fator de insegurança na operação de usinas
nucleares e os riscos de desastres relacionados a vazamentos de
material radioativo, quase que invariavelmente de consequências
dramáticas, espalhando radioatividade no ar, na terra e na água. A
segurança dos reatores nucleares, já foram seriamente abaladas com os
desastres de Three Mile Island (nos Estados Unidos), Chernobyl (na
ex-União Soviética) e agora de Fukushima (no Japão). Com outras
tecnologias para produzir eletricidade também podem ocorrer acidentes
(como incêndios ou ruptura de barragens em reservatórios de usinas
hidroelétricas), mas os acidentes nucleares, devido à liberação de
radiação, são infinitamente mais perigosos à vida humana/animal e a
natureza. Este último no Japão, mostrou que mesmo em um país altamente
desenvolvido e bem preparado tecnologicamente, com nível científico
elevado de seus especialistas, desastres e falhas tecnológicas podem
acontecer. Os riscos de acidentes nucleares existem e quando acontecem
são devastadores. Daí para evitar este risco o caminho é não instalar
estas usinas.
Outra questão de caráter econômico é o fato da eletricidade nuclear
ser mais cara que outras formas de produzir eletricidade. A geração
nucleoelétrica é uma tecnologia complexa e cara, e que fica ainda mais
cara e deixa de ser competitiva em relação a outras fontes de energia
devido aos gastos para melhorar o desempenho e a segurança das usinas.
De modo geral, somente empresas estatais constroem reatores nucleares,
ou empresas privadas com fortes subsídios governamentais. E aí esta o
“nó” para esta indústria que depende enormemente de altos
investimentos vindo dos cofres públicos. No Brasil um reator de 1.300
MW tem seu custo inicial avaliado em 10 bilhões de reais.
E finalmente a questão não resolvida de armazenamento do “lixo
nuclear”. Nenhum país conseguiu até hoje equacionar definitivamente o
problema da destinação dos resíduos perigosos (altamente radioativos)
produzidos nas reações nucleares, que em geral se acumulam nas
próprias usinas (como em Angra 1 e 2; e projetada para Angra 3). Estes
residuos continuam ativos por milhares de anos, criando assim também
um problema ético, pois a geração presente se beneficia dos serviços
prestados pela eletricidade, e acabam legando as gerações futuras os
residuos radioativos.
Diante das evidências, tristemente constatadas em Fukushima no ano
passado envolvendo a emissão de material radioativo para o meio
ambiente, provocando a retirada de mais de 100 mil pessoas, ainda
resta muito a fazer para acabar de vez com esta tragédia. O chamado
programa de descontaminação iniciado recentemente, prevê reabilitar
uma área de 20.000 km2 da região mais exposta a precipitação
radioativa, e assim possibilitar o retorno das pessoas que de lá foram
retiradas. Serão liberados pelo governo japones 13 bilhões de dólares
para esta finalidade. Estima-se que no caso dos reatores 1,2 e 3 o
combustivel fundido será retirado em prazo próximo a 25 anos, e que
somente depois, estas unidades serão desmanteladas (descomissionadas),
o que deverá levar mais 15 anos. Ou seja as unidades da central de
Fukushima Daiichi somente se tornarão um mausoleu definitivo para a
posteridade em 2052. Lembrando que todo este trabalho ao longo dos
próximos 40 anos será realizado na maioria por operários que
trabalharão em ambiente de alta radioatividade.
A catástrofe em território japonês foi um grande exemplo/aviso para o
mundo, contribuindo efetivamente para o aumento da desconfiança na
industria nuclear. Como consequência aumentou a rejeição da opinião
pública global ao uso da energia nuclear, e vários países entenderam
este alarme e anunciaram o cancelamento dos seus programas
nucleoelétricos. Pesquisas de opinião pública realizadas em paises que
já tem usinas nucleares, o Brasil incluído, indicaram que 69% dos
entrevistados rejeitam a construção de novas usinas. No Brasil 79% dos
entrevistados dizem se opor a construção destas usinas.
Não há, portanto, razões para investir mais em energia nuclear no
Brasil. Para garantir a segurança energética o país dispõe de recursos
renováveis abundantes e diversos que podem atender a uma demanda
eficientizada, sem desperdicios e com geração descentralizada, além da
complementariedade entre as diversas fontes energéticas.
colocou em evidência mais uma vez, as grandes questões que ainda não
foram respondidas pela área nuclear.
A primeira delas é o alto fator de insegurança na operação de usinas
nucleares e os riscos de desastres relacionados a vazamentos de
material radioativo, quase que invariavelmente de consequências
dramáticas, espalhando radioatividade no ar, na terra e na água. A
segurança dos reatores nucleares, já foram seriamente abaladas com os
desastres de Three Mile Island (nos Estados Unidos), Chernobyl (na
ex-União Soviética) e agora de Fukushima (no Japão). Com outras
tecnologias para produzir eletricidade também podem ocorrer acidentes
(como incêndios ou ruptura de barragens em reservatórios de usinas
hidroelétricas), mas os acidentes nucleares, devido à liberação de
radiação, são infinitamente mais perigosos à vida humana/animal e a
natureza. Este último no Japão, mostrou que mesmo em um país altamente
desenvolvido e bem preparado tecnologicamente, com nível científico
elevado de seus especialistas, desastres e falhas tecnológicas podem
acontecer. Os riscos de acidentes nucleares existem e quando acontecem
são devastadores. Daí para evitar este risco o caminho é não instalar
estas usinas.
Outra questão de caráter econômico é o fato da eletricidade nuclear
ser mais cara que outras formas de produzir eletricidade. A geração
nucleoelétrica é uma tecnologia complexa e cara, e que fica ainda mais
cara e deixa de ser competitiva em relação a outras fontes de energia
devido aos gastos para melhorar o desempenho e a segurança das usinas.
De modo geral, somente empresas estatais constroem reatores nucleares,
ou empresas privadas com fortes subsídios governamentais. E aí esta o
“nó” para esta indústria que depende enormemente de altos
investimentos vindo dos cofres públicos. No Brasil um reator de 1.300
MW tem seu custo inicial avaliado em 10 bilhões de reais.
E finalmente a questão não resolvida de armazenamento do “lixo
nuclear”. Nenhum país conseguiu até hoje equacionar definitivamente o
problema da destinação dos resíduos perigosos (altamente radioativos)
produzidos nas reações nucleares, que em geral se acumulam nas
próprias usinas (como em Angra 1 e 2; e projetada para Angra 3). Estes
residuos continuam ativos por milhares de anos, criando assim também
um problema ético, pois a geração presente se beneficia dos serviços
prestados pela eletricidade, e acabam legando as gerações futuras os
residuos radioativos.
Diante das evidências, tristemente constatadas em Fukushima no ano
passado envolvendo a emissão de material radioativo para o meio
ambiente, provocando a retirada de mais de 100 mil pessoas, ainda
resta muito a fazer para acabar de vez com esta tragédia. O chamado
programa de descontaminação iniciado recentemente, prevê reabilitar
uma área de 20.000 km2 da região mais exposta a precipitação
radioativa, e assim possibilitar o retorno das pessoas que de lá foram
retiradas. Serão liberados pelo governo japones 13 bilhões de dólares
para esta finalidade. Estima-se que no caso dos reatores 1,2 e 3 o
combustivel fundido será retirado em prazo próximo a 25 anos, e que
somente depois, estas unidades serão desmanteladas (descomissionadas),
o que deverá levar mais 15 anos. Ou seja as unidades da central de
Fukushima Daiichi somente se tornarão um mausoleu definitivo para a
posteridade em 2052. Lembrando que todo este trabalho ao longo dos
próximos 40 anos será realizado na maioria por operários que
trabalharão em ambiente de alta radioatividade.
A catástrofe em território japonês foi um grande exemplo/aviso para o
mundo, contribuindo efetivamente para o aumento da desconfiança na
industria nuclear. Como consequência aumentou a rejeição da opinião
pública global ao uso da energia nuclear, e vários países entenderam
este alarme e anunciaram o cancelamento dos seus programas
nucleoelétricos. Pesquisas de opinião pública realizadas em paises que
já tem usinas nucleares, o Brasil incluído, indicaram que 69% dos
entrevistados rejeitam a construção de novas usinas. No Brasil 79% dos
entrevistados dizem se opor a construção destas usinas.
Não há, portanto, razões para investir mais em energia nuclear no
Brasil. Para garantir a segurança energética o país dispõe de recursos
renováveis abundantes e diversos que podem atender a uma demanda
eficientizada, sem desperdicios e com geração descentralizada, além da
complementariedade entre as diversas fontes energéticas.
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