quarta-feira, 21 de março de 2012

Artigo de José Bezerra Normando

Adeus, fera Macedo

José Bezerra Normando*


Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor”. 
Lembrei-me dessa música “A flor e o espinho” de Nélson Cavaquinho e Guilherme de Brito. Domingo, às 13 horas quando o vereador Aquino Neto me ligou comunicando o falecimento do meu amigo e compadre Francisco Neves de Macedo, um dos doze fundadores da torcida organizada do Alecrim F.C. – FERA – Fiéis Esmeraldinos Radicais. Como numa tragédia grega, em apenas sete meses o Alecrim FC perdeu Ubirajara Júnior, o Birinha que era seu advogado, José Arivan (Pastel), que foi vice presidente e Macedo que foi presidente do clube esmeraldino. Diante de tantas provações digo como o escritor Euclides da Cunha: o alecrinense é antes de tudo um forte. Ainda nesse período o clube tem amargado prejuízos incalculáveis com a derrubada criminosa do Estádio Machadão fruto da irresponsabilidade dos governos inescrupulosos e incompetentes que contou com o respaldo de uma população alienada, ingênua e a conivência de parte da imprensa.
Conheci Macedo em 1977 quando criamos com mais de dez amigos a torcida FERA que ele chamava carinhosamente de “Os doze apóstolos da esperança”. Em 1987, ao lado de alguns sonhadores ecologistas criamos o Partido Verde no RN, partido do qual saí em 2007 e fui para o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), mas ele continuou no PV. Ainda em 1987 foi padrinho da minha primeira filha – Mircela Aline. Em 1992 quando fundei o fã-clube do rei Roberto Carlos – o “Além do Horizonte” – ele veio participar ativamente. No ano passado depois do show do rei em Jerusalém ligou pra mim dizendo: ”Compadre, estou chorando até agora. Realmente o cara é fera.”
Tínhamos muita coisa em comum. Além de torcermos pelo Alecrim, também torcia pelo Botafogo do Rio, era professor. Idealista, socialista, ecologista, romântico, saudosista. Nascemos no sertão do RN, ele em Santana dos Matos, eu, em Pau dos Ferros. Seu filho Diógenes Pereira de Macedo nasceu no dia 17 de outubro de 1997, ou seja, no mesmo dia, hora, mês e ano que nasceu minha filha Roberta Luciana, com um detalhe, no mesmo hospital: Promater. Fomos a mais de mil jogos do Alecrim e viajamos centenas de vezes de carro, ônibus e até avião. Numa dessas viagens um dos pneus de seu carro estourou e quase morríamos próximo a cidade de Lajes, o que lhe provocou uma grande gargalhada dizendo que as manchetes dos jornais no dia seguinte seriam; ”Morre a torcida do Alecrim na BR 304.”Falando em viagens lembro-me que no nosso último encontro me mostrou um acróstico sobre as mil viagens que estamos prestes a realizar com o Verdão. No Alecrim Futebol Clube foi torcedor, conselheiro e presidente, doando-se totalmente. Às vezes comentava que não estava fazendo mais que sua obrigação e lembrava o profeta do Líbano, Kalil Gibran: “pouco dás quando dás de vossas posses, porém verdadeiramente dás quando dás de si mesmo.” Transformou seu corpo em um outdoor ambulante, pois estava sempre vestido com a camisa do Alecrim FC. Numa festa natalina em nossa sede campestre em Macaíba, vestiu-se de papai noel ecológico, ou seja, de verde e chegou em um jipe aberto com um saco de presentes e as crianças quase acabam com ele. Recordo com saudade quando ligava pra ele e perguntava: ”é mais cedo ou mais tarde? E ele respondia: “Quanto mais cedo melhor. Em 1986 ganhamos o bi campeonato estadual arrecadando dinheiro junto aos torcedores para pagar aos jogadores. Isto foi um fato inédito, pois pela primeira vez uma torcida organizada venceu um campeonato.
Tradicionalista e emotivo batizou sua filha de Nobília que era o nome de sua mãe. Solidário, colocou o nome do seu primeiro filho de Silton em homenagem a um militante de esquerda que foi morto pelo golpe militar de 1964. Sempre falava com alegria que seu filho mais novo, Tobias Macedo, torcia pelo Alecrim e Botafogo. Transformou sua casa na sede da FERA, guardando faixa, charanga e bandeiras. Batizou sua Kombi de “Fera móvel” numa alusão ao Papa móvel criado durante a visita do papa João Paulo II ao Brasil em 1980. Intelectual, membro da Academia de Trovadores do RN, escrevia textos e poesias belíssimas. Criou frases que marcaram como a que ironizava a derrota da campanha das Diretas já no Congresso Nacional: “Odilon, continue cobrando as faltas diretas”. Duas eram as minhas preferidas: “Razão e coração a serviço do Verdão”; “Com o Alecrim até o dia em que a luta se tornar desnecessária”. Introduziu nas resenhas esportivas literatura de cordel em defesa do Alecrim FC. Venceu vários concursos de poesia no Brasil, ganhando ano passado um em São Paulo numa disputa com mais de mil poetas brasileiros.
É por essas e outras que convido seus amigos, principalmente os alecrinenses nesse sábado, dia 24, às 16 horas, a comparecerem ao Estádio Nazarenão em Goianinha, no jogo Alecrim X Palmeira, quando faremos uma justa homenagem ao saudoso Macedo e cantaremos como o rei Roberto Carlos:
"Não preciso nem dizer tudo isso que lhe digo, 
mas é muito bom saber que você foi nosso amigo...”
Natal (RN), outubro/2011
*Professor e fundador da Fieis Esmeraldinos Radicais - FERA (torcida organizada do Alecrim F.C.)

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