A
BOA FERRAMENTA DO VOTO
Paulo Afonso Linhares
Mais
um processo eleitoral tem o seu coroamento neste 7 de outubro de 2012, uma das
maiores eleições democráticas do planeta. Posto que para um nível federativo
somente, o municipal. Em 5.564 Municípios brasileiros os prefeitos,
vice-prefeitos e vereadores serão eleitos para um novo mandato de quatro anos.
Uma mega eleição. Somente a sua realização já configura uma enorme vitória para
a sociedade brasileira que tanto desejou isto nos anos de chumbo da ditadura
militar (1964-1985) que, em verdade, realizava eleições nos três níveis
federativos, porém, havia enormes limitações ao exercício das liberdades civis
e políticas, mormente no seio de uma ordem jurídica cujo princípio fundamental
era autocrático e plasmado no famigerado Ato Institucional nº 5, expressão
maior da aliança cívico-militar que empalmou o poder em 1964, através do
"putsch" de primeiro de abril que apeou do governo da República o
presidente constitucional do Brasil, João Belchior Marques Goulart, o
"Jango", dando início a uma série de governos militares, a começar pelo marechal Humberto de Alencar
Castelo Branco e findar com o general João Batista de Figueiredo.
Gente
morreu ou foi torturada para que tivéssemos a democracia atual que, embora necessite de constante aperfeiçoamento, se traduz numa
enorme evolução política da sociedade brasileira. Claro, obstáculos enormes
existem, ainda, no caminho que nos leva à democracia plena, como é o caso o
voto obrigatório. Infelizmente a cultura autoritária das elites políticas
brasileiras, à direita, ao centro e à esquerda, impôs o voto obrigatório na
Constituição de 1988 e o mantém até os dias atuais. Indubitavelmente, o voto
facultativo confere maior legitimidade aos processos democráticos. O sistema proporcional
de eleição é igualmente um enorme retrocesso.
Outro
ponto negativo na democracia brasileira é a concepção de que a ferramenta do
voto popular serve apenas para legitimação de alguns agentes políticos, das
cúpulas dos poderes Executivo e Legislativo, nos três níveis federativos. Os
membros do Judiciário não são eleitos, ademais da circunstância de que o
cidadão-eleitor não é chamado jamais a decidir sobre questões
político-administrativas que envolvam o controle e gestão do Estado, a despeito
das ferramentas de realização da democracia direta e semi-direta previstas no
art. 14, da Constituição da República: plebiscito, referendo e iniciativa
popular de projeto de lei.
O
voto, assim, não serve apenas para dar empregos de luxo para alguns agentes políticos (vereador, prefeito e
vice-prefeito, deputados estadual, governador e vice-governador, deputado
federal e senador, presidente e vice-presidente da República). Certamente
seríamos um país bem melhor se houvesse maior participação do cidadão, através
do voto popular, direto e secreto, em vários processos gestionários e de
controle da máquina estatal, mediante o uso de plebiscitos, referendos e
iniciativas populares de projeto de lei, atualmente muito facilitado esse uso
com a intervenção das tecnologias da informação e comunicação (TIC), a custos
reduzidos e com um grau enorme de confiabilidade. É certo que o Brasil está,
ainda, aquém desse patamar. Infelizmente.
Nestas
eleições, duas inovações: a) mais de oito milhões de eleitores serão identificados,
na hora da votação, através da tecnologia da leitura biométrica do polegar,
experiência que, exitosa, será estendida a mais de cinquenta por cento do
eleitorado brasileiro em 2014; e, b) será a primeira eleição em que a Lei da
Ficha Limpa terá aplicação. Algumas mudanças, aliás, muitas vezes lentas ou
equivocadas. O que importa, contudo, é que não seja abandonada a perspectiva de
aperfeiçoamento da democracia que temos, o que somente é possível com a
realização de eleições e mais eleições. Afinal, como afirmava o mestre Georges
Burdeau, na frase tão lembrada por mim, "os males da democracia só se
curam com mais democracia" (in
Jornal do Brasil, 30/01/2009). Assim, mais uma vez, ao voto galera!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários críticos sem identificação não serão aceitos.