domingo, 21 de julho de 2013

Artigo de Paulo Afonso Linhares

CONFUSÃO DE VOZES

Paulo Afonso Linhares

Até o início de junho de 2013 a presidente Dilma literalmente "surfava" em elevados índices de acetação de seu governo e nos mais de cinquenta por cento de intenções de votos para reeleição no pleito presidencial de 2014. De repente todo esse capital político se esfumaçou, para reafirmar a conhecida assertiva de Marx: "tudo que é sólido desmancha no ar".  Claro, Dilma não está sozinha, porquanto as tsunamis humanas que causaram enormes preocupações e surpreenderam a todos, nas principais cidades brasileiras, levaram de roldão boas reputações e esvaziaram os capitais políticos de governadores e prefeitos que gozavam igualmente de confortáveis  números de aprovação popular. Independentemente de posição política ou ideológica.

Inegável que as camadas médias da população estão insatisfeitas  com o olvido de que têm sido alvo, quer por parte do governo Lula quer no tocante ao atual governo, nesta última década. Para ambos governos não vale a verdade aristotélica de que a virtude está no meio.  As duas pontas do espectro social  - os tantos muito pobres e os poucos muito ricos - foram bem aquinhoadas, enquanto coube à maioria da classe média "carregar o piano" e arcar com os ônus da estabilidade econômica, ela que ademais de tudo é a grande formadora de opinião. O recuo dos índices de aprovação da presidente Dilma, de governadores estaduais e de prefeitos, decorreu do poder de mobilização da classe média a partir das redes sociais e da ocupação de generosos espaço públicos, tudo no bojo de uma grande onda de insatisfação popular da população contra autoridades públicas de qualquer extração.

Os governos das três esferas federativas, no Brasil, estão atônitos e não têm como solucionar a curto prazo as dificuldades  colocadas pela conjuntura cada vez mais adversas,  sobretudo, pelo fato de que as manifestações populares, com fortes tinturas de violência, de saques e de atos de vandalismo, continuam a ocorrer atualmente e causam enorme estabilidade política com negativos reflexos no mercado financeiro, ademais de gerar uma crise de desconfiança.

As soluções não se apresentam assim tão simples, embora algumas pistas possa ser seguidas: uma destas se refere ao confisco salarial que a União Federal promove através de Imposto de Renda e que tem como alvo prioritário segmentos da classe média; bastaria uma correção da tabela deste tributo para aliviar muito a mordida do Leão, mas, as perspectivas nesse rumo são pouco promissoras. A classe média continuará a suportar uma das cargas tributárias mais pesadas do mundo, sem uma contrapartida estatal de serviços públicos essenciais nas áreas críticas da saúde, educação e segurança.  Até quando?

Doutra parte, é sem muito esforço a constatação de incompatibilidades e insuficiências presentes numa nova ideia de cidadania que se gesta à sombra das manifestações populares ainda em curso nas principais metrópoles brasileira, das quais pode ser destacadas uma estranha aversão aos partidos políticos ora existentes, como se fosse possível atuação política fora do âmbito partidário. Entretanto, se os olhos se voltarem para o futuro cenário de 2014, podem ser vislumbradas muitas dificuldades a serem enfrentadas pelos partidos políticos e respectivos candidatos.


E nesse cenário a presidente Dilma e seus aliados políticos dificilmente poderão recuperar os índices de popularidade junto ao eleitorado, anteriores ao período de turbulências ainda bem presentes. Desde logo, a antevisão do futuro próximo projeta cenários marcados pela indefinição e por elementos acidentais (em passado recente, Collor foi um desses...) que poderão emergir e onde até o impossível pode ocorrer. Neste rumo, surpresas podem ocorrer: pode ser uma Marina Silva ou Eduardo Campos a ameaçar Dilma ou, pasmem, a reentrada triunfal de Lula, candidatíssimo à presidência, sem dúvida um pesadelo para os caciques da oposição. Tudo movediço e impreciso. Vamos esperar para ver no que resulta essa confusão de vozes.

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