CONFUSÃO
DE VOZES
Paulo Afonso Linhares
Até
o início de junho de 2013 a presidente Dilma literalmente "surfava"
em elevados índices de acetação de seu governo e nos mais de cinquenta por
cento de intenções de votos para reeleição no pleito presidencial de 2014. De
repente todo esse capital político se esfumaçou, para reafirmar a conhecida
assertiva de Marx: "tudo que é sólido desmancha no ar". Claro, Dilma não está sozinha, porquanto as
tsunamis humanas que causaram enormes preocupações e surpreenderam a todos, nas
principais cidades brasileiras, levaram de roldão boas reputações e esvaziaram
os capitais políticos de governadores e prefeitos que gozavam igualmente de
confortáveis números de aprovação
popular. Independentemente de posição política ou ideológica.
Inegável
que as camadas médias da população estão insatisfeitas com o olvido de que têm sido alvo, quer por
parte do governo Lula quer no tocante ao atual governo, nesta última década.
Para ambos governos não vale a verdade aristotélica de que a virtude está no
meio. As duas pontas do espectro
social - os tantos muito pobres e os
poucos muito ricos - foram bem aquinhoadas, enquanto coube à maioria da classe
média "carregar o piano" e arcar com os ônus da estabilidade
econômica, ela que ademais de tudo é a grande formadora de opinião. O recuo dos
índices de aprovação da presidente Dilma, de governadores estaduais e de
prefeitos, decorreu do poder de mobilização da classe média a partir das redes
sociais e da ocupação de generosos espaço públicos, tudo no bojo de uma grande
onda de insatisfação popular da população contra autoridades públicas de
qualquer extração.
Os
governos das três esferas federativas, no Brasil, estão atônitos e não têm como
solucionar a curto prazo as dificuldades
colocadas pela conjuntura cada vez mais adversas, sobretudo, pelo fato de que as manifestações
populares, com fortes tinturas de violência, de saques e de atos de vandalismo,
continuam a ocorrer atualmente e causam enorme estabilidade política com
negativos reflexos no mercado financeiro, ademais de gerar uma crise de
desconfiança.
As
soluções não se apresentam assim tão simples, embora algumas pistas possa ser
seguidas: uma destas se refere ao confisco salarial que a União Federal promove
através de Imposto de Renda e que tem como alvo prioritário segmentos da classe
média; bastaria uma correção da tabela deste tributo para aliviar muito a
mordida do Leão, mas, as perspectivas nesse rumo são pouco promissoras. A
classe média continuará a suportar uma das cargas tributárias mais pesadas do
mundo, sem uma contrapartida estatal de serviços públicos essenciais nas áreas
críticas da saúde, educação e segurança.
Até quando?
Doutra
parte, é sem muito esforço a constatação de incompatibilidades e insuficiências
presentes numa nova ideia de cidadania que se gesta à sombra das manifestações
populares ainda em curso nas principais metrópoles brasileira, das quais pode
ser destacadas uma estranha aversão aos partidos políticos ora existentes, como
se fosse possível atuação política fora do âmbito partidário. Entretanto, se os
olhos se voltarem para o futuro cenário de 2014, podem ser vislumbradas muitas
dificuldades a serem enfrentadas pelos partidos políticos e respectivos
candidatos.
E
nesse cenário a presidente Dilma e seus aliados políticos dificilmente poderão
recuperar os índices de popularidade junto ao eleitorado, anteriores ao período
de turbulências ainda bem presentes. Desde logo, a antevisão do futuro próximo
projeta cenários marcados pela indefinição e por elementos acidentais (em
passado recente, Collor foi um desses...) que poderão emergir e onde até o
impossível pode ocorrer. Neste rumo, surpresas podem ocorrer: pode ser uma
Marina Silva ou Eduardo Campos a ameaçar Dilma ou, pasmem, a reentrada triunfal
de Lula, candidatíssimo à presidência, sem dúvida um pesadelo para os caciques
da oposição. Tudo movediço e impreciso. Vamos esperar para ver no que resulta
essa confusão de vozes.
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