GLÓRIAS AO LEVIATÃ
Paulo Afonso Linhares
Recentemente a presidente Dilma Rousseff vetou projeto de
lei aprovado pelo Congresso Nacional e
que previa a extinção
da multa rescisória
de 10% sobre o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), paga pelos empregadores nas
demissões
sem justa causa. Para compensar os
rombos nas contas do FGTS provocados pelos Planos Verão e Collor 1, em 1989 e 1990, em 2001
foi criada essa multa - que vai para o Governo Federal e não para o trabalhador - cuja arrecadação anual atinge a cifra astronômica de 3 bilhões de reais. Dados revelados pela
Confederação
Nacional da Indústria
(CNI), demonstram que durante os 11 anos em que a multa vem sendo arrecadada,
as empresas desembolsaram R$ 45,3 bilhões
para reequilibrar as contas do FGTS.
Todavia, desde fevereiro de 2012 o déficit foi inteiramente coberto,
conforme informações
do próprio
Conselho Curador do FGTS ao governo
federal, de modo que essa multa de 10% já
poderia ser extinta. Em suma, a multa cumpriu a sua finalidade desde o início de 2012, quando passou a ser
utilizada como receita extraordinária
do governo federal, para compor o superávit
primário.
Em suma, seria mais do que razoável
a desoneração
do custo que essa multa agrega à
economia, mesmo porque a despeito do que defende o movimento sindical ela não se constitui elemento preponderante
para preservação
do emprego. De acordo com fontes do governo federal, a extinção dessa multa "geraria um
impacto de R$ 3 bilhões
por ano e levaria à
redução
de investimentos em infraestrutura e em programas sociais, como o Minha Casa,
Minha Vida", segundo noticiado no Portal G1.
A drenagem desses recursos das empresas brasileiras
certamente impede a geração
de muitos milhares de empregos formais, mas, infelizmente os burocratas do
governo federal não
têm
o alcance dos aspectos positivos da extinção
dessa multa. Claro, mesmo considerando o argumento de que haveria um prejuízo para programas sociais do governo,
a possibilidade da criação
de empregos e de novos investimentos por parte da iniciativa privada seria mais
importante e compensaria socialmente aquelas perdas.
O episódio
desse veto da presidente Dilma ao projeto aprovado de extinção da multa, apenas ilustra a
costumeira atitude das elites políticas
brasileiras em favor do Estado forte. Parece ser este o traço de união que aproxima todas as tendências político-ideológicas brasileiras. Assim, o
conservador DEM e o moderado PSDB caminham de braços dados com os esquerdistas PT, PC
do B, PSTU etc., quando se trata da preferência
por um Estado altamente interventivo, que tudo pode, tudo arrecada, tudo faz e
acontece, que prende e arrebenta. Entretanto, pouco esperança há do lado dos defensores empedernidos
do liberalismo econômico
à
brasileira viceja o velho paradoxo, muito ainda presente nas cabeças dos líderes empresariais deste país, de privatização dos lucros e socialização dos prejuízos. Daí a dificuldade de canalizar essas
energias produtivas do desenvolvimento numa só direção. Lastimavelmente.
Embora sem aceitar os postulados do ideário liberal, por absolutamente anacrônico, não parece razoável que se mantenha igualmente este
anacronismo do Estado onipresente. A experiência mostra que o ideal é o equilíbrio das forças do mercado com as diversas formas
de intervenção do Estado, que representa razoável efetividade na produção de marcos regulatórios dos diversos aspectos sóciais
e econômicos,
além do planejamento e execução de políticas públicas. A modernidade aponta para o que de positivo
pode gerar o encontro destas duas vertentes, a iniciativa privada e o Estado,
sempre de modo equilibrado, nos processos de desenvolvimento sustentável do mundo atual. Enfim, ao que parece, para a felicidade dos
povos e nações,
nem deve haver a prevalência da "mão invisível" de que falava Adam Smith,
com as abominações
da "laissez-faire", nem tampouco dos tentáculos hipertróficos do Leviatã referido por Thomas Hobbes. No equilíbrio dessas potestades está o caminho.
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