O OCASO DO RÁDIO
Paulo Afonso Linhares
Uma coisa está
muito errada nesta República de tantos sobressaltos. E não é apenas por conta das supremas birras e
cismas do ministro Joaquim Barbosa. Alguma coisa como aquele famoso "algo de podre no Reino da Dinamarca". Constatado um longo processo
de decadência
das emissoras de rádio
de ondas mėdias
(AM), sobretudo, pelo enorme aumento da população urbana nas últimas cinco décadas e, por consequência, a perda de prestígio das temáticas centradas no meio rural e em
alguns segmentos populares urbanos, muito presentes nas grades de programação das emissoras radiofônicas AM chantadas em todo território
nacional.
Certo ė que as rádios AM, de complexa e cara estrutura
técnica
e operacional, foram suplantadas pelas emissoras FM, bem mais simples e econômicas, ademais do melhor sistema
audiofônico
(estéreo)
e da melhor recepção,
sem interferências
ou chiados desagradáveis.
Nas últimas
duas décadas,
foi igualmente enorme a concorrência
da Internet, sobretudo, com a inserção
revolucionária
das redes sociais. Doutra parte, as agências de comunicação passaram a desprezar teimosa e
insistentemente as emissoras de rádio
AM, para deixá-las
à margem
dos planos de mídia
que elaboram.
Com a ascensão dos meios digitais, a solução para as rádios AMs seria transformá-las em emissoras digitais e estéreofônicas. Para tanto, o governo
brasileiro deveria optar por um dos três
sistemas implantados noutros países,
a exemplo do que fizera com a televisão.
Estranhamente, todas as opções
examinadas e testadas não
conseguiram agradar os técnicos
e burocratas do Ministério
das Comunicações
e da Anatel. Estranhamente, sim, porquanto em vários outros países a digitalização
das rádios
AM, além
da enorme melhoria da qualidade audiofônica,
do sistema mono para o estéreo,
propiciou a sua transformação
em excelentes veículos
de transmissão
de dados através
de ondas mėdias,
com inegável
incremento econômico
e financeiro das respectivas empresas de radiodifusão.
Recentemente, o governo federal surpreendeu
com a edição
do Decreto nº 8.139,
de 07 se novembro de 2013, cujo desiderato, sem meias palavras, "dispõe sobre as condições para extinção do serviço de radiodifusão sonora em ondas mėdias de caráter local..." E a proposta
governamental ė transformar
as emissoras AM (ondas mėdias)
em FM (frequência
modulada), embora com imposições
absurdas do pagamento das concessões,
isto sem falar que nada do equipamento da primeira servirá para a segunda, de
modo que uma emissora nova deve surgir paralelamente às velhas e boas rádios analógicas de onda médias. No entanto, algumas exigências desse Decreto, como a da
absoluta regularidade fiscal, trabalhista e previdenciária. A rádio que não puder exibir essa regularidade,
ficará de
fora do baile.
Conhecendo as coisas desses brasis, é
previsível que em breve tempo o governo federal facilite a digitalização das emissora de rádio AM e os seus burocratas
providenciarão
novas vendas das concessões
de emissoras AM digitais. E tem tudo para dar com os burros n'água. É o que
nos resta é aguardar.
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