domingo, 23 de novembro de 2014

Artigo de Paulo Afonso Linhares

FANTASMAS E FANTASIAS UDENISTAS

Paulo Afonso Linhares

Derrotados nas urnas neste 26 de outubro de 2014, os tucanos e seus aliados, tanto os partidários quanto os da grande imprensa conservadora e do empresariado, promovem um terrível bombardeio contra a Petrobrás, no objetivo de transformar mero caso de polícia - caracterizado pela corrupção que envolve grandes empreiteiras nacionais e ex-diretores da estatal - em crise política que ameaça o governo Dilma e de quebra derruba drasticamente essa que é uma das maiores empresas do mundo, com aviltamento do valor de suas ações nas bolsas de valores e que terá como inelutável consequência a sua privatização. Não que as relações promíscuas entre fornecedores da Petrobrás e alguns de seus executivos, envolvendo vultosas propinas, bem assim os reflexos desse esquema corrupto no governo Dilma e nos principais partidos políticos que lhe dão suporte, deixem de merecer rigorosas investigações e punição exemplar dos culpados. Ao contrário, imprescindível é que todos os fatos sejam apurados e punidos os culpados, porém, tudo com serenidade, sem açodamentos midiáticos e nos estritos parâmetros do direito. Assim como deve ser e determina a boa e salutar ética republicana.

A despeito do vulto que mais esse escândalo possa ter, jamais passará de um caso de polícia e como tal deve ser tratado, com a utilização dos instrumentos legais pertinentes. Nada de "república do Galeão" ou outras pantomimas muito próprias do legado de ódio da velha UDN, de triste memória. Despedaçar a Petrobrás para vender-lhe os cacos aos grandes especuladores nacionais e estrangeiros não deixa de ser impatriótico, pois configura frontal agressão a um dos maiores patrimônios do povo brasileiro. Não bastaram as vendas, a preço de banana, da Companhia Vale do Rio Doce, Companhia Siderúrgica Nacional, Embratel e Telebrás, além de outras? Essas empresas, patrimônio do povo brasileiro, foram privatizadas por um décimo de seu valor, em média, em obscuras transações que tiveram como moeda alguns papéis podres (junk bonds), ademais dos generosos financiamentos por parte do BNDES.

A presidente Dilma Rousseff e o carismático ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm inimigos poderosos na dita "grande imprensa", no Judiciário, no meio empresarial e tem aliados inconfiáveis no Congresso Nacional. Aliás, a este propósito não é absurdo afirmar que a tal "base aliada", locução muito ao gosto do jargão petista, não passa de um enorme pântano em que a moeda corrente é a chantagem mais deslavada e a traição o seu traço mais característico, tudo isso agravado pela falta, do lado do governo Dilma, de interlocutores capacitados e eficientes no enfrentamento dessa situação de mega crise política gerada pelo affair Petrobrás. Ressalte-se, contudo, que a própria Dilma tem notabilizado-se pelas dificuldades de interlocução com setores importantes da sociedade civil, sobretudo, o empresarial, além do diálogo difícil que tem no front político, com aliados e até mesmo com correligionários petistas. Nesse campo estaria anos-luz de Lula que, a toda evidência, convence até bode a tomar banho, mesmo lá com aquela sua famosa língua presa!

Claro, nessa arrastada novela da corrupção que envolve a Petrobrás o que menos há é interesse em punir os executivos corruptos da estatal, delatores ou delatados: o objetivo é vincular toda essa lama ao PT em geral e, no particular à presidente Dilma ou, quem sabe, não se concretizaria o sonho de consumo dos tucanos e demos, dos corvinhos da Veja, do Estadão e da Rede Globo, enfim, dos direitistas de todos os matizes e naipes deste país, que é "botar na roda" o próprio Lula? Até mesmo porque não querem aceitar a derrota eleitoral de 2014 nem tampouco correr o risco de uma volta de Lula em 2018.

Paradoxal é que a elite conservadora esteja a sacrificar, decerto que temporariamente, alguns dos seus quadros (executivos de grandes empreiteiras da Petrobrás, como Mendes Júnior, Queiroz Galvão, OAS etc.) como protagonistas da Operação Lava Jato, em que são apuradas graves negociatas e pagamento de propinas a diretores da estatal petrolífera. Nos noticiários veiculados pela grande imprensa fala-se do pagamento de propinas por essas empreiteiras como se esse fosse o primeiro caso. Ridículo, para não dizer patético. Essas negociatas sempre ocorreram e as propinas e diversas modalidades outras de corrupção são o combustível que impulsiona a política brasileira. Aliás, certamente não menos de noventa por cento dos políticos eleitos para cargos executivos e parlamentares da República, no passado quanto recentemente (nas eleições de 2014 inclusive) compraram, a peso de ouro, seus mandatos, fenômeno que torna ilegítima a representação política. E de onde vem o dinheiro? Dos grandes grupos empresariais, sempre em troca de favores os mais diversos. Com uma reforma política séria esse quadro poderia mudar, mas, o problema maior é que para senadores e deputados federais somente vale o conselho da personagem clássica de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, no impagável Il gattopardo: "Algo deve mudar para que tudo continue como está".

Os espectros da UDN golpista e raivosa ganharam corpos e vozes novas, de tucanos, demos e outros bichos mais. Democraticidas por vocação, tudo farão para que o resultado eleitoral de 26 de outubro seja revisto e afastado o onipresente perigo que agora atende pelo nome de "bolivarianismo", credo que ora imputam à presidente Dilma, como no passado inventaram aquela história besta da "República Sindicalista" que o João Goulart desejava implantar no Brasil. Essa direita velha golpista só quer muito pezinho para armar um furdunço de ditadura e eternizar o mando da Casa-Grande, deixando o povo novamente no sereno desta grande senzala.

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