Seria intelectual aquele sujeito que dedica grande parte de sua vida ao trabalho de investigação das questões fundamentais do seu tempo? Que busca respostas para fenômenos em gestação ou ainda inexplicados? Que olha o que todo mundo olhou, mas vê o que ninguém viu, porque consegue formular criativamente novas perguntas sobre velhos problemas? Aquele de quem a sociedade espera uma explicação plausível para compreender porque as coisas são como são?
Certamente, é muito maior o elenco das indagações que, ao longo da história da ciência, problematizou o perfil do intelectual e sua função histórica. Por vieses diferentes, a filosofia, a ficção científica, a sociologia, a literatura e a epistemologia se arriscaram na formulação do que deve ser o intelectual, esse leitor privilegiado do mundo que ocupa alguns lugares profissionais: jornalista, professor, cientista, escritor, artista, etc.
Tangenciando questões de fundo epistêmico, histórico-sociológico e comunicacional, este livro desenvolve vários eixos, ora analíticos, ora analógicos, tentando capturar as metamorfoses e o sentido do fenômeno da intelligentsia. Um desses eixos passa por uma sequência de personalidades ímpares e suas circunstâncias, como Voltaire, Comte, Durkheim, Max Weber e Zola, além de Câmara Cascudo, Gilberto Freyre, Mário de Andrade, Lima Barreto, o coreano Yi Sáng e Edgar Morin em uma composição que articula alguns movimentos de mútua contaminação e/ou ruptura entre os intelectuais e a cultura.
O conteúdo ultrapassa os argumentos institucionalizados, fazendo uso das analogias suscitadas pela fábula “A cigarra e a formiga”, a partir das interpretações permitidas por todo o corpo fabular atribuído a Esopo. Demonstra como a fábula “A cigarra e a formiga” pode ser entendida como um mito de fundação da civilização ocidental e da divisão do trabalho, além de, ao mesmo tempo, representar a escravidão do homem e do pensamento, “arbitrariamente afastados da polissemia e da polifonia”.
O fluxo deste trabalho, que faz repercutir diversos ‘idiomas’, embora seja embalado por metalinguagens (a música, o mito...), aposta na palavra como elemento intercessor entre a filosofia, a arte e a ciência, e culmina com a narrativa de uma nova fábula que propõe tecer a informação, a reação, a reflexão, a criação e a comunicação, de forma a catalisar as relações sociais pelo imaginário e pela razão aberta.
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