domingo, 10 de abril de 2011

Artigo de Paulo Afonso Linhares

TRÁGICA IMITAÇÃO

Paulo Afonso Linhares



O mundo chora as 12 vítimas do ataque tresloucado de um jovem, Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos, no massacre ocorrido no dia 7 passado, na Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro.  Crianças foram vítimas de brutais assassinatos praticado por um psicopata, numa imitação de massacres semelhantes ocorridos em escolas norte-americana e alemãs, bem estandartizados no filme do diretor Michael Moore, ganhador do Oscar 2003 de melhor filme longa-metragem documentário, Bowling for Columbine (ou Tiros em Columbine, em português), que em faz uma ácida crítica à violência da sociedade norte-americana, inclusive para desfazer o mito de que essa violência teria uma relação direta com o fácil acesso às armas de fogo, traçando comparativos com o Canadá (cuja população tem tantas armas quanto à dos Estados Unidos da América e apresenta índices de violência muito menores), Alemanha e Japão. Essas críticas acerbas à sociedade norte-americana valerem a divisão de opiniões que, nos EUA, cercam o polêmico filme de Moore.
            Infelizmente Wellington Menezes de Oliveira resolveu imitar o que de pior havia para ser copiado das sociedades do “primeiro mundo”. Aliás, é típico do colonizado aproveitar o “lixo” da sociedade colonizadora. Quem não se lembra do episódio da História em que as mulheres brasileiras aderiam ao modismo de raspar as cabeças, quando da instalação da corte no Rio de Janeiro com a vinda do príncipe regente D. João para o Brasil, fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte que, sob o comando do general Junot, invadiram Portugal, no final do ano de 1807. Claro, queriam imitar as mulheres da corte portuguesas que desembarcaram no Rio de Janeiro de cabeças raspadas, todavia, não em razão de uma nova moda, mas, como um modo de se livrarem da praga de piolhos que as acometera na longa travessia oceânica!
               O ridículo dessas imitações é plenamente absorvível, o trágico que ela enseja, porém, nem sempre pode ser assimilado. Esse é o caso do recente massacre da Escola Municipal Tasso da Silveira. E os analistas de primeira mão culpam as armas de fogo como se essas pudessem agir dissociadas das mentes ensandecidas que por vezes delas se acercam e as utilizam como instrumento facilitador da violência. Fato é que inúmeros massacres ocorreram na História da humanidade sem que, necessariamente, tenham utilizado armas de fogo para perpetrá-los. As espadas, tacapes e bordunas, lanças, flechas e mesmo o fogo, foram igualmente presentes em muitas dessas tragédias humanas. O que conta mesmo é o instinto assassino que ronda os corações e que detonam o cotidiano pacífico das sociedades com essas cenas de selvageria. O instrumento a ser utilizado para infligir dor e sofrimento pode ser qualquer um, inclusive arma de fogo. Não resta dúvida que uma arma de fogo pode facilitar essas manifestações de barbárie, mas, não se pode dizer que estas são uma consequência direta da existência daquelas, as armas de fogo, na sociedade.
            Outra questão é que o psicopata atirador poderia ter aberto fogo em vários outros locais, como bancos, igrejas, trens, metrôs, cinemas etc. Ter sido em colégio que abriga adolescentes e crianças foi meramente circunstacial. Claro, foi mais fácil para ele atirar em pessoas com pouca ou quase nenhuma capacidade de reação, sobretudo, em face de uma sociedade que tem perdido para a violência de todos os matizes a sua capacidade de superação e de reagir à altura, mesmo sendo uma sociedade democrática. E o caso de quase sessenta assassinatos em Mossoró, somente no primeiro trimestre deste ano de 2011, não quer dizer nada. Lastimável é que quase todas as vítimas têm menos de 21 anos. Mais triste, ainda, é que a sociedade não reage, principalmente diante da inoperância e incompetência da máquina estatal de conter essa maré de violência que se imita a si mesma. Até quando? 

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