Educação, a prioridade desejada
João Faustino (Prof. da UFRN)
O mundo passou a conviver com uma nova sigla – BRIC – cada letra representando a inicial do nome de quatro grandes países em processo de desenvolvimento. Diga-se que renomados especialistas chegam a incluí-los no rol das maiores economias do mundo.
Brasil, Rússia, Índia e China exibem pontos comuns destacando-se os seguintes: estabilidade econômica; produto interno bruto em ascensão; mercado consumidor em alta; grande disponibilidade de recursos naturais; aumento da taxa de desenvolvimento humano; valorização do mercado de capitais e investimentos nos diversos setores da economia.
O Brasil se sente orgulhoso por assim ser visto pela comunidade internacional. Esse reconhecimento, entretanto, não nos exime da grande responsabilidade de fazermos deste momento algo duradouro e definitivo.
Todavia, é bom lembrar que a sustentabilidade dessas condições está condicionada à real possibilidade que haveremos de encontrar para oferecer substancial melhoria à qualidade da Educação que oferecemos à nossa juventude.
Preocupa-nos a constatação de que, dos países que compõem o novo bloco de emergentes, no caso o BRIC, Brasil e Índia são os que menos investem em Educação. – cerca de 4% do PIB, contra 8% na China e 5,2% na Rússia.
No caso brasileiro, além de se investir pouco em Educação, nos deparamos com a má aplicação do dinheiro público, alem de um verdadeiro descompasso entre os investimentos no ensino fundamental e básico e aqueles destinados ao ensino superior. Enquanto em outras Nações – como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, França, Suíça – há um equilíbrio nos investimentos nos três níveis de ensino, aqui se evidencia uma lamentável e agressiva distorção quando olhamos o custo aluno por nível de ensino.
O Brasil gasta R$ 905,00 por aluno/ano no ensino fundamental; R$ 950,00 no ensino médio; e R$ 11.480,00 no ensino superior. Em síntese: No Brasil, um aluno do ensino superior é 12 vezes mais caro do que o aluno do ensino fundamental. É evidente que a solução não é reduzir os custos com o ensino superior, mas ampliar substancialmente os investimentos com os outros níveis de educação, principalmente o ensino básico.
O que se pode esperar de um ensino público onde o professor, com toda responsabilidade de que é investido, vive na condição de sub-empregado, com remuneração inferior a R$ 1.000,00 por mês, tendo, frequentemente, que se atualizar e disponibilizar a totalidade do seu tempo para educar bem?
Desejamos para o nosso país um desenvolvimento duradouro com taxas diferenciadas de crescimento, da mesma forma que queremos o Brasil respeitado pela produção científica; pelo trabalho acadêmico realizado nas suas universidades; pela competência dos seus empresários; pela austeridade dos seus governantes.
Esse Brasil, que é o próprio futuro, como se expressou o presidente Barack Obama em discurso que pronunciou na recente visita que nos fez, enfrenta o mais sério de todos os seus desafios, que é melhorar a educação das suas crianças e dos seus jovens. Somente um grande esforço em favor da Educação poderá nos assegurar a condição de que nos falou, com tanta ênfase, o presidente Obama.
Necessitamos, urgentemente, de mais investimentos. Temos que destinar, a curto prazo, pelo menos o que o México aplica no seu sistema educacional – aproximadamente 5% do seu PIB e, gradativamente, chegarmos aos 8% da China ou, em última hipótese, ao percentual a que chegou a Coréia do Sul, um país desenvolvido e respeitado.
Sem Educação, o desenvolvimento é circunstancial, momentâneo, com durabilidade efêmera e, o que hoje é futuro, pode ser amanhã um passado distante. Já assistimos momentos pouco duradouros de crescimento econômico. Não podemos pensar num Brasil competitivo sem uma população educada e preparada para os desafios do trabalho.
O problema da educação pública do nosso país é preocupante e precisa ser encarado com respostas imediatas. Avanços tivemos, como a criação do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental, posteriormente, o FUNDEB, ou ainda o piso salarial do professor. Mas, são, ainda, avanços muito limitados, pequenos, diante da grandeza do problema e do desafio que se apresenta diante de nós.