domingo, 16 de fevereiro de 2014

Artigo de Paulo Afonso Linhares

DE OPOSIÇÃO DESQUALIFICADA
Paulo Afonso Linhares
O instigante teólogo Leonardo Boff, em reflexão recente publicada Jornal do Brasil On Line, assevera que o “Zürcher Zeitung", o maior jornal suíço e pouco depois o Times diziam que o autor mais lido hoje é Marx. Não só por estudiosos, mas por banqueiros e financistas conscientes que querem saber por que seu sistema foi a falência e por que tem tantas dificuldades em sair dele, se é que encontram uma saída que não signifique mais sacrifício para a natureza (injustiça ecológica) e para a humanidade já sofredora (injustiça social).” E complementa o teólogo de reconhecidas luzes: “Sou cristão, teólogo e escritor. Marx nunca foi pai nem padrinho da Teologia da Libertação que ajudei a formular. O atual anticomunismo  revela a anemia de espírito e a pobreza de pensamento  que  estão prevalecendo como disfarce para esconder o desastre que significa a economia de mercado, altamente predadora da natureza e agressora de todo tipo de direitos humanos e agora numa crise da qual não sabem como sair.”
É com esta assertiva do teólogo Leonardo Boff, posto que ligeira, mas, de inegável profundidade, que me encorajo a discutir alguns aspectos da conjuntura política nacional, mormente, em face das críticas lançada contra o governo Dilma Rousseff e ao partido desta, o PT. Com efeito, em boa hora Boff livra o filósofo de Tréveris (Renânia-Palatinado, Alemanha), de muitas responsabilidades sem sentido algum. Na verdade, as pessoas, à direita, ao centro ou à esquerda, sempre querem botar palavras no boca de Marx – para o bem ou para o mal -  que ele jamais pensou, ou ousou, em dizer.
Está na moda, hoje em dia, ser contra o PT, Lula, Dilma e quejandos. Tudo, como se as mazelas destes Brasis em mais de quinhentos anos de colonização europeia tivessem aí a sua única origem. Bobagem. O nosso grave problema é que quem melhor reflete sobre a iníqua estrutura social brasileira continua a ver a senzala a partir da casa-grande, seja de direita, centro ou de esquerda, para usar essa rotulação anacrônica e não menos ridícula. Todavia, fato é que a elite brasileira tem sido sempre cruel, despreparada e mesquinha, nas diversas fases da construção de uma identidade nacional. Tanto que o sociólogo Oliveira Vianna, posto que de pendores ultradireitistas, afirmava, lá pelos anos ’30 do século XX, com muita razão, que deveriam congelar o Brasil, antes que apodrecesse.
Com todas as críticas negativas ou bisonhas que possa merecer, não há negar que o ex-governador paulista José Serra tem uma poderosa capacidade de analisar fatos da conjuntura política nacional. Com muita razão, recentemente Serra irritou-se com seus companheiros de partido (leia-se: Aécio Neves) pela oposição desqualificada que têm feito ao governo Dilma. Ora, criticar a presidenta da República por um pernoite em Lisboa, quando a comitiva presidencial brasileira sem deslocava da Suíça para Cuba, parece uma questão de somenos. Uns idiotas até explicitam o valor da diária de hotel param a acomodação presidencial: 26 mil reais. Ora, deveria a nossa queridíssima presidenta Dilma ficar num hotel pulgueiro da Alfama ou noutro sítio da velha Lisboa?  Coisa nenhuma! A chefe de Estado brasileira deveria ter acomodações compatíveis com sua representatividade.
Com o perdão do meu amigo (e quase compadre) Rinaldo Barros, com uma oposição medíocre que despreza questões fundamentais da conjuntura, como insiste José Serra – em especial, as dificuldades da economia – esse povo do PT tende a se perpetuar no poder. Salvo se a poderosíssima casta judiciária, com a férrea mão barbosiana (nada do Ruy, mas, do Joaquim...),  quiser desigualar os desiguais, para aprofundar as enormes desigualdades que grassam neste país-continente, ademais de dar um novo e desconhecido rumo a este país, o que parece ser uma péssima e arriscada possibilidade. Enfim, não se pode querer que a História seja uma apanágio de medíocres e diletantes da política. O nosso Brasil merece mais.

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