BRASIL SEM
PORTEIRA:
CACHOEIRA E
CASCATAS
Paulo
Afonso Linhares
O affair
Cachoeira deveria ser no máximo
um caso de polícia,
jamais se transformar numa comissão
parlamentar de inquérito
a chamar para si as atenções
da sociedade brasileira, como se não
tivesse este país
magnos problemas a resolver. Caso de polícia
tem que se tratado como tal, não
com o status de questão política, por mais que os dois lados -
situação
e oposição
- queiram tirar vantagem da situação
e infligir danos políticos
ao adversário.
Todos certamente perderão
alguma coisa, alguns até
o jeito de andar, como deve ocorrer com o santarrão Demóstenes Torres, já caído em desgraça e abandonado por seus antigos
correligionários
do DEM e colegas de Ministério
Público.
"[...] embora a autoridade seja um urso teimoso,
muitas vezes, à
vista do ouro, deixa-se conduzir pelo nariz" (Though authority be a stubborn bear, yet he is often led by the nose
with gold). Cada vez mais essa assertiva de Shakespeare (Conto de Inverno, ato IV) se torna mais
verdadeira, para os observadores pacientes da cena política brasileira nos dias que correm.
Sobretudo porque cada vez mais a estrutura do Estado se torna permeável à corrupção de diversos matizes, a despeito dos
inúmeros
e complexos mecanismos institucionais
criados para coibi-la. Uma autoridade que se funda nos privilégios das corporações
de servidores do próprio
Estado, que finda por construir um círculo
de ferro que segrega a grande massa da população e revela a dominação das elites sem nenhuma quebra da base autoritária
e paternalista. A propósito, o sábio Renan deixou lançado que "a mediocridade fundou a
autoridade" (La médiocrité fonda l'autorité).
A quem interessar
possa, nesses discursos de combate à
corrupção
prevalece mais os arroubos vazios do que a realidade; tem muita cascata e pouco
espírito
público.
Pessoas do calibre de Carlos Cachoeira são
uma síntese
da relação
espúria
entre o poder e setores do crime organizado. Lastimavelmente a CPMI do Cachoeira sequer isto pode evidenciar, como
lição
de cidadania. Nada de útil
deverá
deixar. E agora é
o próprio
Cachoeira solto de canga e corda. Coisas deste Brasil sem porteira.
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