sábado, 2 de novembro de 2013

Se esse “Sinca” falasse... É “Sinca” ou “Simca”?

Foto do acervo pessoal da Família Soares:
Ex-senador Luiz de Barros e ex-prefeito Manoel Soares.

O amigo José Soares Júnior (Dudé) surpreendeu-me republicando em seu conceituado blog o relato de minha lembrança de um amigo comum – Luís de Barros – no dia em que completaria 101 anos – 1º de novembro.
Só que Dudé foi além. Colocou como ilustração desse artigo uma foto, pra mim, muito significativa porque nela aparecem dois amigos inesquecíveis – o próprio Luís de Barros e o ex-prefeito (meu grande protetor e compadre) Manoel Soares da Câmara, que era uma das maiores, senão a maior liderança de São Gonçalo na época.
Luís de Barros, toda vez que ia a São Gonçalo, a primeira casa em que parava era na de Manoel Soares. Às vezes de lá mesmo voltava, pois Manoel Soares era tão querido e respeitado que, quase sempre, as pessoas que Luís iria visitar também, pra lá se dirigiam logo que tomavam conhecimento de sua chegada.
Mas, tudo bem: A novidade da foto é o carro – o “Sinca”, top de linha da época. Pelo carro, posso dizer que a foto foi tirada depois da eleição de 1960, em que, como contei no artigo reproduzido no Blog do Dudé, Luís de Barros concorreu à Prefeitura de Natal (e perdeu) enfrentando um dos mitos políticos da época, seu compadre Djalma Maranhão.
Foi uma campanha dura, dificílima, imagino eu muito onerosa. Digo que “imagino” muito onerosa, porque dela não participei. Na época, com 16 anos, a acompanhei no internato do Seminário de São Pedro, em Natal.
Mas, foi uma campanha onde, de um lado, estava Luís de Baroos, um homem tido como muito rico, grande comerciante e considerado, portanto, um líder conservador, apoiado pela UDN – União Democrática Nacional, partido de oposição ao PSD, que respaldava o presidente da República de então, Juscelino Kubitschek, que desfrutava de grande índice de aprovação.
Do outro lado, estava não apenas um líder populista muito respeitado – Djalma Maranhão. Djalma era parte de uma poderosa engrenagem política que formara ampla coligação partidária chamada “Cruzada da Esperança”, para enfrentar a batalha eleitoral de 1960. No comando dessa Cruzada estava o maior líder de massa que o Rio Grande do Norte conheceu – Aluizio Alves, candidato a governador.
Pelo que sei, Luís bancou sua campanha, em Natal, praticamente sozinho. Pois o grupo político a que pertencia, comandado por outra grande expressão política do Estado, o governador Dinarte Mariz, concentrava todas as suas energias e recursos na batalha do interior. Era ali que esperava neutralizar a influência exercida pelas forças oposicionistas na Capital.
Ou seja: Na capital, Luiz de Barros, o candidato a prefeito, que se virasse. E ele perdeu a eleição. Não tenho em mãos os números. Não foi uma derrota humilhante. Se pode existir, foi uma derrota “honrosa”. Contudo, diziam os vitoriosos, Luiz de Barros "saíra da campanha literalmente quebrado". E essa pecha parecia machuca-lo mais do que o próprio revés eleitoral, que, por sua experiência, não o deve ter surpreendido.
Pelo que sei, Luiz de Barros crescera na vida trabalhando como comerciário de manhã, de tarde e de noite. Conquistou a confiança do seu empregador e este, ao se aposentar, teria lhe passado – não sei de que forma – a titularidade da firma, com sede na rua Chile, na Ribeira.
Luiz logo se consolidou como um grande empresário. Conquistou duas grandes representações – da Refinações de Milho Brasil (acho que esse Brasil era até com “z”) e das tintas Coral. De tudo que se vendia dos dois grupos no RN, ele tinha a sua parte, pois o negócio passava pelas suas mãos.
Projetou-se, também, como importador de farinha de trigo. Comprava de navios e, pelo que me contaram, chegou a instalar várias padarias em Natal entregando-as a amigos, só com o compromisso de que a farinha de trigo seria fornecida por ele.
Não tenho notícia de negócios feitos por Luiz de Barros com o Governo. Pelo que sei, toda sua movimentação comercial era dentro da iniciativa privada. Nunca ouvir falar que ele tivesse vendido uma única caixa de Maisena ou uma única lata de tinta, um saco de farinha, a qualquer repartição governamental.
Ou seja: Não seria nada demais quebrar, depois de passar várias meses (da campanha) fora dos negócios e, além do mais, gastando para não ser desmoralizado eleitoralmente.
Aí é que o “Sinca”, entra na história. E quem me fez o relato foi ele próprio, num dia em que, após uma exaustiva jornada, já na campanha  para deputado em estadual, em 1962, sentado num alpendre amigo e saboreando uma cerveja bem geladinha, o sereno começando a cair, com o queixo apontando para frente na direção do “Sinca” top de linha que nos esperava, ele perguntou:
- Paulo Tarcísio, sabe a história desse carro?
- Não.
- Quando eu perdi a eleição de Natal, saíram dizendo que eu tinha quebrado. E eu quase que quebro mesmo. Mas, não quebrei não. Um dia, uma segunda-feira, depois de uma boa farra de final de semana, chamei Neta (sua secretaria de confiança) e lhe pedi o talão de cheque. Assinei um em branco e disse a ela: Va lá em fulano de tal (disse o nome – que não recordo - do dono da empresa que revendia esse tipo de veículo) e compre o melhor carro novo que tiver. Pode pagar todo de uma vez. Não quero saber o preço.

Vendo a foto que Dudeh publicou foi inevitável a recordação dessas lembranças. Tristes, cheias de saudade, mas com um saudável sabor da doçura que têm as amizades inesquecíveis. O que não lembro é se, na época, a marca do carro era escrita com "n" ou "m" antes do "c".

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