REPRISE NUNCA MAIS
Paulo
Afonso Linhares
Neste 4 de maio de 2014 a população eleitora mossoroense é chamada às urnas para eleger o Prefeito e o Vice-prefeito do Município de Mossoró, em eleição suplementar. Reprisam-se, posto que
em cenário
diferenciado, as eleições de 2012 em que, além dos 21 edis da Câmara Municipal, restaram eleitos Cláudia Regina Freire de Azevedo (DEM) e
Wellington Filho (PMDB), prefeita e vice, respectivamente. Então, ocorreu uma avalanche de processos
em que ambos eram tidos como beneficiários de supostas práticas abusivas de poder econômico e/ou de poder político, sobretudo, de parte da governadora Rosalba Ciarlini,
feita patronesse dessas candidaturas. As
ações
e representações
tiveram o patrocínio,
em sua maioria, da candidata derrotada Larissa Rosado (PSB). E os mandatos de
Cláudia
e Wellington foram sepultados por mais de uma dezena de sentenças que os condenaram à perda dos cargos, além de multas e suspensão de direitos políticos por oito anos. Sem dúvida, uma chacina judicial da qual nem a própria Larissa Rosado escapou, eis que
também
sofreu condenações
por "abuso de poder midiático", com idêntica suspensão de direitos políticos e ao pagamento de pesadas multas. Todas as decisões foram confirmadas na segunda instância (TRE-RN) e estariam submetidas à apreciação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A realização de um novo pleito para recomposição do Executivo mossoroense antes de
ser uma demonstração
de eficiência
da Justiça
Eleitoral, finda por expor as enormes fraturas de um modelo político falido, em cuja base remanescem,
ainda, viciosas práticas
de clientelismo político
não
compatíveis
com uma cultura de cidadania, de desfrute dos direitos fundamentais
prefigurados na Constituição
brasileira e de convivência
em ambiente republicano. Entretanto, mesmo a Justiça Eleitoral deu sua contribuição para o fosso de incerteza jurídica que se estabeleceu, isto sem
levar em consideração
que, com tantos vícios
ocorridos, a eficiência
da sua fiscalização
resta seriamente comprometida.
Aliás,
a Justiça
Eleitoral (leia-seTRE-RN) decidiu pela realização da eleição suplementar
independentemente do trânsito em julgado das decisões que suprimiram os mandatos de Cláudia Regina/Wellington Filho. E se o
TSE, passada a eleição
suplementar de Mossoró,
resolver pela reforma de todas as decisões das instâncias inferiores nesse caso? Pode até ser difícil de ocorrer, mas, está no
campo do possível.
Se ocorrer, sem dúvida
estará gerado um imbróglio de enormes proporções e de difícil solução jurídica:
a quem caberia o exercício
dos cargos de prefeito e vice-prefeito de Mossoró, aos eleitos de 2012 ou aqueles cujos nomes foram
sufragados na eleição
suplementar de 4 de maio? Qualquer que seja a opção direitos restarão pisoteados, com preterição de legitimados pela Soberania Popular. Um formidável nó górdio a desafiar os ministros do
Tribunal Superior Eleitoral.
Uma verdade emerge cristalina desse processo eleitoral,
qualquer que possa ser o resultado a sair das urnas neste 4 de maio: as elites
políticas
paroquiais de Mossoró terão
pago muito caro pela brutal judicialização dos resultados das urnas nas eleições de 2012. Como essas acusações da prática de condutas vedadas ou de abuso
de poder econômico,
político
ou midiático
são
sempre aquela história
do "sujo falando do mal lavado", talvez mais sábio fosse ficar longe do "tapetão". Com efeito, um bom exemplo
recente foi dado pelo atual ministro Garibaldi Alves Filho: quando perdeu o
governo do Estado para Wilma de Faria, quando era favoritíssimo, ele não apenas reconheceu a derrota como
mandou retirar todos as ações
e representações
eleitorais contra sua adversária. Resolveu a
questão
política
na instância
apropriada. E se deu bem: quatro anos depois elegeu-se senador com mais de um
milhão
de votos e ajudou a eleger seus aliados do DEM, Rosalba Ciarlini para o governo
e José Agripino para o senado, infligindo a Wilma duríssima derrota. Tudo nas urnas, jamais
nos tribunais. Dai a expectativa de que a eleição suplementar que ora se realiza, em Mossoró, seja, a um só tempo, a primeira e última; reprise de eleição nunca mais.
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