O TRISTE PAÍS DO PIXULECO
Paulo Afonso Linhares
Esta República está cada vez mais estúpida, com uma classe média que se enquadra naquela feliz expressão do poeta Horácio, extraída de suas Epístolas (1,19,19): “O imitatores, servum pecus!” Imitadores, rebanho de servos! Claro, com isto o poeta latino estocava os seus plagiadores. Os imitadores (decerto, sim, desprezíveis), todavia, não têm utilidade nesta reflexão domingueira e não menos literariamente despretensiosa. Fiquemos, assim, apenas com o “rebanho de servos” que, à direita ou à esquerda (para usar essas categorias arcaicas e que pouco definem os grupos sociais que perfilam o espectro politico das complexas sociedades contemporâneas), desqualificam o debate político, enxovalham a cidadania e deitam por terra qualquer esperança de avanço das instituições jurídico-políticas.
Nos últimos tempos, nestes Brasis destrambelhados, tudo tem o acre e bolorento cheiro de retrocesso. Cada vez mais este país parece um crioulo do samba doido, ou melhor, um samba do crioulo doido, em que a nuvem verdadeiramente não é tomada, mas, é mesmo Juno. As camadas médias da sociedade brasileira, que dão tom aos debates que se travam acerca dos grandes temas nacionais parecem ada vez mais confusas, aliás, tudo como pode esperar o senso comum do trivial homo medius. Sim, luzes precárias, devagar-quase-parando.
É nesse clima ora vivenciado que avulta à cena política nacional um insólito e estranho totem: o Pixuleco (segundo dizem, uma expressão usada pelo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, para designar “propina”), um enorme boneco inflável com vestes de presidiário (norte-americano, como aquela roupinha de listas do figurino “irmãos Metralha”) que, segundo os seus (pouco imaginativos) idealizadores, representaria o ex-presidente Lula. A oposição idiotizada se agarrou ao Pixuleco como sua “grande esperança branca” e o fez desfilar pelas ruas das grande cidades do país. A coisa se agravou mais porque Lula não gostou nada do que retratou esse boneco e foi o que faltava para transformá-lo na grande “arma” de uma oposição cada vez mais desencontrada e incompetente.
O trágico é que o pobre do idiota Pixuleco tem sofrido agressões por onde passa; está com mais remendos que mentiras deslavadas. Em Natal, aonde recentemente chegou com pompa e circunstância levou uma peixerada de um intolerante lulista. Claro, com o bucho rasgado Pixuleco foi à lona e o seu agressor, capturado e encaminhado, sob apupos e pescoções, para uma Delegacia de Polícia. Uma comédia bufa, isso sim. Engraçado e não menos trágico, foi a cena dos ânimos acirrados dos militantes que contrastavam com um Pixuleco de olhos baços, largado, apático até, todo enrugado, sem ar nem vida; mais parecia, isso sim, a face embasbacada deste país cujas lideranças mais expressivas, de todos os matizes políticos, tudo têm feito para jogar no abismo da instabilidade política.
Se o(a) leitor(a) quer saber minha opinião, posso dizer que Pixuleco é um joão-redondo estúpido e ridículo, no entanto, defenderia até a morte, parafraseando Voltaire, o seu direito de ser exibido nas ruas do Brasil. Aliás, cada idiota tem o totem que merece e se alguns desses se sentem bem com Pixuleco nas costas, fazer o quê? Por isso, acho condenável, posto que hilária, a atitude do terrorista que esfaqueou o boneco dos tucanos e demos. Atos de intolerância desse jaez nada controem e, o que é pior, podem ser apenas o primeiro degrau de uma escalada de violência por motivação política em que os bonecos podem ser substituídos por gente de carne, osso e sangue. Aqueles fanáticos e sanguinários do Estado Islâmico, como seus sabres degoladores, bem mostram para onde leva a intolerância e a incapacidade de convivência entre contrário. Por isto, deixa o idiota do Pixuleco carregar seus acólitos pelas ruas deste país, inflado com o máximo de ar que possa ter. De rigor, mal não faz mesmo. Ainda bem que, a despeito do que torcem seus idealizadores, jamais será a cara deste país. Arre!
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