QUESTÃO DE FOLCLORE
Paulo Afonso Linhares
A despeito, pois, da importância dessas obras que recheiam a agenda da presidente Dilma, sabidamente sua viagem tem um propósito político: recebida e ciceroneada pela governadora Rosalba Ciarlini, vem “conferir” a veracidade do apoio para 2014 por esta anunciado. Claro que as diversas vertentes da tal “base aliada” de Dilma vão estar junto, sem ceder um milímetro de espaço no palanque presidencial: o deputado Henrique Alves, muito fortalecido aos olhos do Planalto pela boa performance que tem apresentado na condução da mesa da Câmara dos Deputados, em votações decisivas para o governo Dilma; o bem avaliado ministro da Previdência Social, Garibaldi Filho, as deputadas federal Fátima Bezerra e Sandra Rosado, o deputado federal João Maia etc. Enfim, vai ser um momento muito favorável para leituras antecipatórias do cenário que se formará nas eleições de 2014, no Rio Grande do Norte. Quem sabe ler sinais (no sentido semiótico, claro), já pode tirar algumas conclusões, embora tudo possa parecer com um agitado ninho de cancão. Serão bicadas de vários calibres e para todos os gostos, enquanto Dilma imperturbável contabilizará todos os apoios, deixando quase nada para seus futuros adversários ocasionais.
As elites políticas do Rio Grande do Norte têm um forte pendor governista, numa desabrida inversão daquela assertiva cunhada na velha Espanha: “hay gobierno, estoy a favor”. Aliás, com o início do bipartidarismo após a reforma de 1965, em plena Ditadura Militar, foi um transe para o generais aboletados no poder central a dificuldade que houve para conseguir filiados para o partido de oposição consentido (o MDB), pois, todas as expressivas lideranças políticas potiguares só queriam ficar no aprisco governista (a ARENA)... Portanto, não é nenhuma surpresa que o palanque (ainda não eleitoral) da presidente Dilma, nessa vilegiatura às terras potiguares, se faça repleto de “dilmistas” desde criancinhas.
É quase certo que a visita da presidente Dilma se resuma a isso e, sobretudo, que a ela possam ter acesso alguns segmentos importantes da sociedade civil local, sejam representantes das organizações de trabalhadores, sejam representantes da produção, mormente neste momento tão grave em que o Rio Grande do Norte enfrenta os efeitos danosos de três anos de estiagem. Que contribuição o Governo Federal dará para a recuperação dos rebanhos dizimados? E para a indústria do agronegócio? E as empresas potiguares, sufocadas pelas dívidas tributárias do Governo Federal e acossadas pela bem azeitada máquina administrativo-judiciária de cobranças desses débitos? Estas e muitas outras perguntas neste mesmo rumo ficarão sem resposta, porquanto são descabidas no convescote da presidente Dilma e seus tantos aliados políticos do Rio Grande do Norte; fogem do protocolo que, na tradição brasileira, deve sempre ter suas regras quebradas sempre que houver uma bobagem que mereça consideração. E na terra do sábio Cascudo, o resto será inevitavelmente folclore.
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