domingo, 25 de setembro de 2011

Artigo de Paulo Afonso Linhares

O PARADIGMA BRASIL

PAULO AFONSO LINHARES

            Pela primeira vez, na história da Organização das Nações Unidas, teve uma mulher - a presidente Dilma Rousseff, do Brasil - o privilégio de abrir a sessão anual da sua Assembléia Geral, que é o momento em que os chefes de Estado dos diversos países membros se revezam na tribuna e, literalmente dão os seus "recados", a partir dos quais se traçam novos perfis no contexto da geopolítica mundial. Às vezes alguns desses líderes usam essa "janela" para fazer gestos de alta significação política, como foi o caso do palestino Yasser Arafat que, tempos idos, foi à tribuna empunhando uma metralhadora numa mão e um galho de oliveira na outra para demonstrar os dois caminhos que restavam para ser seguidos pelos povos que vivem na multimilenarmente conflagrada região do Oriente Médio; outros vão àquela magna tribuna somente dizer estultices e fazer raiva, literalmente, a meio mundo, como ocorreu na sessão recentemente realizada com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que atacou duramente os países ocidentais e motivou a retirada do plenário dos diplomatas norte-americanos e da maioria dos países europeus.
            A presidente Dilma, felizmente, fez excelente uso do espaço privilegiado que o Brasil tem de sempre abrir a lista de oradores - chefes de Estado - na Assembléia Geral da ONU. Em primeiro lugar buscou demonstrar o papel importante que o Brasil - situado no bloco das potências de economias emergentes (o chamado "Bric") -  pode representar em face da crise econômica mundial, inclusive na fase de seu diagnóstico. Dando sequência às falas de outros presidentes do Brasil que a antecederam, Dilma enfatizou a defesa da presença do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. A sua declaração mais esperada - e não menos polêmica - foi a que apoiou a criação do Estado palestino com as fronteiras demarcadas na faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental, que seria capital palestina, com o reconhecimento pela ONU. A questão é que Israel e seus aliados históricos (Estados Unidos da América, países da Europa Ocidental e Japão) não admitem jamais esse novo cenário do Oriente Médio.
            O Brasil é o país que tem maior autoridade moral para defender a causa do reconhecimento do Estado Palestino, justo porque a criação do Estado judeu, em 1948, teve participação ativa da diplomacia brasileira. Com efeito, a Assembleia Geral da ONU realizada em 1947, foi marcada pela questão árabe-israelense. A criação do Estado de Israel somente tornou-se possível com a aprovação da chamada "partilha da Palestina". Ainda sob influência do holocausto de 6 milhões de judeus mortos pelo nazismo, a ONU aprovou a criação de Israel em votação que se deu por 33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções. O Brasil, então representado pelo embaixador Osvaldo Aranha, votou a favor, juntamente com Estados Unidos e União Soviética. Ademais, o Brasil é um exemplo para o mundo no que se refere à convivência pacífica entre as comunidades judaica e árabe-palestina.
            As palavras da presidente Dilma não destoam daquilo que de bom tem produzido a diplomacia brasileira, seja pela brilhante atuação de Ruy Barbosa na Conferência de Haia, em 1907, seja na profética oração de José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco, o maior dos diplomatas brasileiros, em que assevera: “Estou persuadido de que o nosso Brasil do futuro há de continuar invariavelmente a confiar acima de tudo na força do Direito e do bom-senso e, como hoje, pela sua cordura, desinteresse e amor da justiça, procurar merecer a consideração e o afeto de todos os povos vizinhos, em cuja vida interna se absterá sempre de intervir.” Isto sem o ufanismo tolo e megalomaníaco de alguns, com os quais sentimentos nada se constrói de útil e verdadeiro numa nação soberana e livre. O Brasil, neste momento, traça seu próprio caminho em busca do que lhe reserva o  seu destino manifesto: ser líder das nações latino-americanas sem imposição de políticas imperialistas. É uma grande aposta. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários críticos sem identificação não serão aceitos.