segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Artigo de Paulo Afonso Linhares

BANQUEIROS INGRATOS

Paulo Afonso Linhares

Nunca "na história deste país" os bancos ganharam tanto dinheiro quanto nos governos petistas, o que, aliás, foi admitido pelo ex-presidente Lula em entrevista à imprensa. E isto não deixa de ser um enorme paradoxo. É bem verdade que o governo tucano de FHC, também, fez mimos impensáveis à banca nacional quando não apenas criou um mega socorro para instituições financeiras chamado PROER (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional), como promoveu uma agressiva política de estímulo à concentração de capital na área  financeira, causando o desaparecimento de todos os pequenos e médios bancos de varejo, chegado a atingir, também, até mesmo algumas das grandes redes bancárias como o Banco Nacional e o Bamerindus. Restaram poucos e grandes bancos controlados pelo capital privado, abrindo-se a possibilidades da instalação, no mercado brasileiro, de algumas redes de bancos estrangeiros (HSBC, Santander etc.).

Com efeito,  sob o argumento de que deveria evitar uma crise econômica sistêmica, o governo Fernando Henrique Cardoso implementou uma política de recuperação das instituições financeiras que estavam com graves problemas de caixa, o PROER, resultando na injeção pelo Banco Central brasileiro de uma montanha de dinheiro: No período de 1995 a aproximadamente 2000, foram destinados em títulos de longo prazo mais de R$ 30 bilhões (corrigido pelo IGP-P, tal valor  ultrapassa, hoje, R$ 150 bilhões!) a bancos brasileiros, aproximadamente 2,5% do PIB, o que foi posteriormente proibido com a advento da Lei Complementar nº 101/2000, a chamada Lei de Responsabilidade Fiscal, que proibiu aportes de recursos públicos para saneamento do Sistema Financeiro Nacional).

Em 2013, o lucro dos bancos, no Brasil, bateu todos os recordes. A soma do lucro registrado por quatro bancos brasileiros (Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil,) em 2013, atingiu a cifra superlativa de aproximadamente  US$ 20,5 bilhões (equivalente a R$ 47 bilhões), ultrapassando o Produto Interno Bruto (PIB) estimado de 83 países, no mesmo período, conforme  levantamento feito com base em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). O ranking dos lucros bancários ficou assim em 2013:  o Banco do Brasil teve um lucro líquido de R$ 15,75 bilhões;  o Itaú Unibanco, de R$ 15,6 bilhões, o maior da história de todos os bancos brasileiros de capital aberto; o Bradesco lucrou cerca de em 2013 ficou perto de R$ 12 bilhões; e o lucro do Santander foi de R$ 5,7 bilhões. Os resultados apresentados por estes quatro bancos  em 2013 superou aqueles registrados em 2012. A posição atual é a de que o Banco do Brasil, Itaú e Bradesco são os bancos mais rentáveis das Américas. Os "assaltos" dos empréstimos consignados e os juros estratosféricos dos cheques especiais garantiram esses resultados. Banqueiros, todavia, são como os gatos: quanto mais comem, mais miam...

Estranho é que todos esses resultados favoráveis não têm dado um freio nas línguas nada presas dos banqueiros e analistas do mercado financeiro, a exemplo do recente episódio que envolveu o Banco Santander, que remeteu aos seus correntistas vips (com rendas mensais acima de R$ 10 mil) um informe alertando para os danos que poderiam gerar à economia uma vitória da presidente Dilma Rousseff nas eleições de outubro de 2014:  "A economia brasileira continua apresentando baixo crescimento, inflação alta e déficit em conta-corrente. A quebra de confiança e o pessimismo crescente em relação ao Brasil em derrubar ainda mais a popularidade da presidente, que vem caindo nas últimas pesquisas, e que tem contribuído para a subida da Ibovespa. Difícil saber até quando vai durar esse cenário e qual será o desdobramento final de uma queda ainda maior de Dilma Rousseff nas pesquisas. Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir. O câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam alta e o índice da Bovespa cairia, revertendo parte das altas recentes."

Uma pancada. Embora seja livre a expressão do pensamento, foi uma atitude grosseira e descabida que até agrediu mais os correntistas alvos da mensagem do que a Dilma Rousseff. Tanto que a direção do Santander se desculpou publicamente e despediu os quatro responsáveis pela veiculação do informe: "... Sendo assim, o Banco pede desculpas aos clientes que possam ter interpretado a mensagem de forma diversa dessa orientação, e reitera sua convicção de que a economia brasileira seguirá sua bem-sucedida trajetória de desenvolvimento.” Explicou, mas, não convenceu. Intramuros, os banqueiros continuam a torcer contra a reeleição de dona Dilma.


Afinal, noutro episódio recente, foi do rico camarote de celebridades e endinheirados que o Banco Itaú (repita-se, o detentor do maior lucro da história com os resultados de 2013), montou na Arena Itaquera, que partiram os xingamentos e chulas agressões à presidente da República, quando da abertura da Copa do Mundo. Tudo bem coerente com aquelas peças publicitárias desse banco, que começa com um dedo rodando e termina com uma imoral dedada. Horrível e de um mau gosto atroz. Assim, Quanto mais comem, mais miam esses vorazes banqueiros com seus lucros maravilhosos. Até quando?

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