ELEIÇÕES
2014: NOVO CENÁRIO
Paulo
Afonso Linhares
A
trágica e prematura morte de Eduardo
Campos, ademais de comover toda a nação brasileira, impôs
inesperada e por demais significativa mudança
na cena política nacional, mormente em vista da
eleição presidencial deste ano de 2014 em
que o político pernambucano despontava como o
terceiro dos candidatos nas intenções de votos colhidas em diversas
sondagens até agora realizadas. Na corrida
presidencial, Eduardo Campos patinava entre 8 e 10 por cento, contra cerca de
vinte por cento de Aécio Neves e quase 40 por cento de
Dilma Rousseff. Esta, aliás, vinha aparecendo como provável
vencedora do embate eleitoral ainda no primeiro turno. A tragédia
de Santos, todavia, pode representar uma reviravolta neste cenário.
Ora,
imediatamente depois das exéquias do ex-governador Eduardo Campos
e dentro do prazo legal, a coligação partidária
liderada pelo Partido Socialista Brasileiro - PSB colocou Marina Silva como
candidata à presidência
e o deputado federal gaúcho Beto Albuquerque a
vice-presidente. Por um capricho do destino, o acidente que vitimou Campos repôs
a premissa lógica de que Marina - já
agraciada com uma montanha de vinte milhões
de votos na última eleição
presidencial -, prima facie, seria eleitoralmente mais viável.
Claro, sem ter conseguido "armar" a sua Rede Solidariedade, o partido
que fundou e que não conseguiu registro no TSE a tempo
de participar das eleições 2014, não
lhe restou alternativa senão aderir ao arrojado projeto de
Eduardo Campos que, na condição de condottiere do PSB, para si próprio
reservou a cabeça da chapa presidencial, embora sua
nova correligionária aparecesse com intenção
de votos mais mais robusta, nas pesquisas até então
divulgadas. E Marina Silva passou a figurar apenas como uma espécie
de "dama de companhia", candidata à vice-presidência
embora inicialmente com maior percentual de intenção.
A
entrada de Marina Silva muda o jogo, apesar de dificilmente impedir que Dilma
Rousseff conquiste o seu segundo mandato presidencial. Aliás,
nesse ninho de cancão que é a
eleição presidencial, um dos propósitos
confessados de Eduardo Campos já é uma realidade: a lógica
da política brasileira atual foge à
polarização enfadonha entre petistas e tucanos.
Nesse contexto, o mais prejudicado será o candidato Aécio
Neves, que nos próximos dias será
ultrapassado por Marina, que também
tentará encostar em Dilma Rousseff. Para
esta, real perigo seria uma aliança política
de Marina e Aécio que, aliás,
será a grande beneficiária
se não ocorrer essa (improvável
e quase impossível) união
de forças.
Entretanto,
a despeito do considerável apelo popular da candidatura
Marina Silva no meio urbano, verdade é que ela se apequena muito no meio
rural, porquanto a ex-ministra do governo Lula e antiga militante petista é
considerada ferrenha inimiga do agronegócio,
em especial nas questões ambientais. Passada que seja a
comoção que causa no público
a morte de Eduardo Campos, será bem mais nítida
a posição de cada um dos principais
candidatos à presidência
da República à eleição
de outubro de 2014 e quanto mais distante ficar das eleições
o impacto eleitoral dessa tragédia se diluirá.
Desde
logo, ressalte-se, favorece a candidatura de Dilma a circunstância
de que não existe maior diferença
político-ideológica
entre os principais projetos em disputa: os três
governos petistas (dois de Lula e um da Dilma) foram uma continuidade da política
econômica de FHC e Marina Silva nasceu
politicamente no PT, ademais da circunstância de que o PSB sempre foi um
aliado estratégico petista (a enorme alavancagem do
processo de crescimento do Estado de Pernambuco que tornou o então
governador Eduardo Campos um mito, foi obra de Lula continuada por Dilma). Em
suma, posto que em graus variados, as três candidaturas principais (Aécio,
Dilma e Marina) se situam na faixa de centro-esquerda do espectro ideológico.
Claro, quem ganhar a eleição armará um
grande esquema político-parlamentar para garantir a
governabilidade, que finda sendo um gigantesco balaio de gatos.
O
palanque eletrônico terá
cada vez mais importância nas eleições
brasileiras e a atuação dos candidatos, a despeito das
plataformas assemelhadas, poderá ser o diferencial a ser captado pelo
eleitor e transformado em voto. Claro, algum candidato e seus epígonos
encastelados em veículos de comunicação
importantes continuarão a disseminar pânicos,
sobretudo, ao alardear uma severa crise econômica
que não existe e o fantasma de um desastre
econômico de proporções
bíblicas, caso Dilma Rousseff confirme
nas urnas as leituras favoráveis à sua
reeleição feitas através
das pesquisas de opinião. Bobagem, embora Dilma tenha errado
quando recusou-se a fazer ajustes imprescindíveis
na economia nos dois primeiros anos de seu governo, insistindo em manter o
crescimento econômico apenas com a expansão
do crédito, que findou por gerar inflação
e alguns amargos corretivos, a exemplo da escalada dos juros pelo Banco
Central.
Segundo
assertiva do brilhante e insuspeito
economista Luís Carlos Mendonça
Barros, na conferência "Brasil: o fim de um
modelo ou ajuste cíclico",
proferida em evento ocorrido em São Paulo, dia 21 de gasto de 2014,
"não estamos no meio de uma crise, mas,
de algo como uma "parada técnica" depois de dezessete anos
de crescimento, apenas a crise conjuntural de um modelo de sucesso que requer
ajuste cíclico". Vivemos um período
de ajuste cíclico." Nada de pânico.
Claro, a natureza e a intensidade desse ajuste dependerá
de quem será eleito presidente. Aquele que for ungido pelos urnas de outubro
deste ano de 2014, como presidente da República, obrigatoriamente deverá
fazer esse ajuste cíclico, porquanto os indicadores econômicos
mostram que, a despeito do ciclo econômico virtuoso de 17 anos, a economia
atingiu limites intransponíveis a inspirar cuidados e preocupações
caso não se façam
os necessários ajustes. Vale esperar.
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