segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Artigo de Paulo Linhares

A MODA QUE INCOMODA 
Paulo Afonso Linhares 
A oposição ao governo Dilma Rousseff, mormente aquela encastelada nos grandes conglomerados de comunicação brasileiros, mantém uma marcação cerrada e que não encontra limites, no bom senso ou na lógica mais elementar  e mesmo quando resvala para o absurdo e até para a mais rasteira baixaria. Vale tudo nas tentativas, quase sempre vãs até agora, de infligir danos políticos a Lula, Dilma e os petistas de todos os calibres, ademais dos seus aliados políticos. Claro, não se pode defender, aqui ou alhures, uma imprensa “chapa branca”, para bajular governos e potentados. Nada disto! O que se espera de uma imprensa livre é uma leitura dos fatos radicada em sólida base ética, muito mais até como direito fundamental dos destinatários da comunicação (leitores, radiouvintes, telespectadores etc.) do que da liberdade de expressão dos diversos veículos comunicadores e de seus agentes. Em suma, aqueles que estão na ponta do processo de comunicação têm direito à informação clara e, sobretudo, verdadeira.  Agindo como verdadeiros partidos políticos, alguns veículo de comunicação - a exemplo da Rede Globo, do jornal O Estado de São Paulo e da revista Veja - perdem o foco e assestam suas baterias contra os “infiéis” petistas, em especial aqueles que foram aquinhoados com mandatos eletivos nos diversos níveis federativos, por manifestação inequívoca da soberania popular, pedra angular do regime democrático preconizado na Constituição Federal de 1988.
 São muitos os exemplos flagrantes da indisposição desses veículos de comunicação em face do governo Dilma. Por qualquer coisa ficam, de modo renitente, a bicar nos calcanhares dos petistas: qualquer coisa negativa que possa ocorrer no Brasil e até no mundo, procuram creditar aos satãs vermelhos, petelhos, petecas, oPTantes por “ideologias exóticas”, bolivarianos de uma figa, fidelcastristas de quatro costados etc. Se um vulcão pipoca na Mongólia Exterior a culpa é do PT, de Lula, de Dilma, que o atiçaram; se a sonda espacial Giotto tiver algum acidente de percurso na sua (longuíssima) trajetória em busca do cometa 26P/Grigg-Skjellerup, distante milhões de quilômetros da Terra, de quem será a culpa? Claro, é do PT, de Lula, de Dilma e queijandos... De lascar os tamancos de São Pantaleão!
Certo é que a turma do Aécio não se conforma com a derrota de 26 de outubro passado, em especial quando vira, no primeiro dia de 2015, a posse de Dilma Rousseff para mais um quadriênio como inquilina do Palácio da Alvorada. E teve de tudo: Dilma discursou no Congresso Nacional, inclusive para uma plateia de chefes de estado, chefes de governos, representantes diplomáticos, senadores e deputados federais e governadores. A despeito da oratória modesta, as palavras da presidente da República foram bem recebidas, principalmente por não ter omitido qualquer dos “calombos” que tiram o sono de Dilma Rousseff: escândalos da Petrobrás, dificuldades econômicas etc. Tudo em tom coloquial e sincero.
Sem ter o que criticar seriamente nos diversos momentos da solenidade de posse da dupla Dilma Rousseff/Michel Temer, os comentaristas políticos/econômicos da Rede Globo foram para o terreno da moda. Sim, Dilma e sua filha Paula Rousseff, além da belíssima Marcela Temer, estariam desgraçadamente mal vestidas, segundo “estilistas” do porte de Miriam Leitão e Cora Rónai, que criticaram até o modo de andar da presidente, além de dizer que era “cafona” o vestido de renda que ela vestia. Um tuiteiro mais atrevido até comparou a roupa da presidente Dilma com aqueles paninhos que vestem os botijões de gás... Críticas bestas, despeitadas, de um atroz ridículo.

Ora, as comentaristas, que não seriam modelos de elegância em nenhum dos um dos noves círculos do Inferno de Dante, se esqueceram (a) que a presidente Dilma Rousseff é uma sexagenária (tem 67 anos) e como tal não poderia exibir o saracoteio de uma gatinha de 19 anos e (b) diante de tantas ameaças a ela dirigidas e por questão de segurança, é quase certo que a presidente estivesse a usar um colete a prova de balas no périplo que fez, inclusive em carro aberto, entre o conjunto de edifícios do Congresso Nacional e o Palácio de Planalto, passado por toda a Esplanada dos Ministérios. Envergando um colete desse por baixo da roupa, até mil vezes bela Gisele Bündchen passaria a ter aquele andar parecido com o RoboCop. O importante mesmo foi que a presidente passou incólume e digna - mesmo que a desafiar os cânones da elegância no vestir, no andar ou até no modo de ser, segundo preconceituosas observações das jornalistas citadas - enquanto ladravam despeitados cães na ensolarada manhã de Brasília.

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