DE
FATOS E DESEJOS
Paulo
Afonso Linhares
As
manifestações
contra o governo Dilma, marcadas para o dia 16 de agosto deste ano de 2015, se
transformaram na grande esperança
dos setores que incansavelmente desejam um terceiro turno, ou quiçá
um quarto, das eleições presidenciais de 2014, nem que para
isso possam incendiar irremediavelmente está nação. Para os que planejam ou torcem
ardorosamente pelo defenestração
da presidente Dilma, o que faltava para
colimar esse objetivo estaria colocado nas ruas deste país, ou seja, seria a vez do movimento popular fazer o que o
senador Aécio
Neves não
conseguiu através
das urnas de 2014. No entanto, a coisa não
funcionou conforme o planejado: faltou gente nas ruas, como faltaram votos para
levar o tucano mineiro ao Palácio
do Planalto, gerando neste caso irada frustração de segmentos políticos mais conservadores encastelados
no mundo financeiro, no empresariado da indústria e do agro-negócio, além dos poderosos baronatos da imprensa
brasileira.
Antes
de discutir a temática
das manifestações
programadas pelos opositores políticos
de Dilma, Luta, PT & Cia., é
imprescindível notar que a partir do final de junho deste ano de 2015, a ideia
de apear do poder a atual inquilina do
Alvorada tem perdido substância
a partir de um reposicionamento dos principais apoiadores da aventura política encetada por essa porção mais radicalizada do bloco
oposicionista e que é exibe
a digital do próprio
Aécio que, aliás, em momento algum inspirou confiança. Fragilizou essa posição igualmente o não apoio ao impeachment de
figuras dos portes do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador José
Serra, ambos tucanos de vistosas
plumagens. Certamente eles avaliaram o enorme risco que envolveria essa ação política, cujos imprevisíveis resultados poderia apontar
inclusive (por paradoxal que pareça) para o fortalecimento de lideranças petistas. Melhor deixar quieto,
devem ter imaginado.
E
por que o povo não
apoia o impeachment de Dilma? Por que, afinal, não foi para as ruas no dia 16 de agosto,
a despeito da baixíssima
popularidade da presidenta captada pelas pesquisas de opinião? Ora, o presidente da República não pode ser punido por impopularidade,
mas, por crime de responsabilidade, como reza a Constituição. Que fez Dilma para receber a
reprimenda extrema que é o
impeachment? Contra ela sequer houve, até o presente momento, a imputação de algum dos crimes de
responsabilidade previstos no art. 85 da Constituição. E não adianta ficar a falar bobagens, como
fazem alguns (grandes) veículos
de comunicação,
desejosos em ver pelas costas a presidenta Dilma; a apuração de crime de responsabilidade de
presidente da República
deve observar o devido processo que está prefigurado
no art. 86, da Lei Maior.
O
"jornalismo desejoso", para usar a feliz assertiva do saudoso
jornalista Nilo Santos, é uma
das pragas que grassam nas sociedade atuais, em especial naquelas em que impera
a frouxidão
ética típica da imaturidade de suas instituições jurídico-políticas. À imprensa não cabe fazer fatos, mas, divulgá-los na exatidão de suas circunstâncias. Por isto é
que as colocações que têm aparecido nos grandes veículos de imprensa deste país nada mais são que ações panfletárias de combate político, algo descabido no figurino ético que norteiam a atividade jornalística dos povos civilizados.
O
quê, afinal, tem isto com o impeachment de Dilma?
Muita coisa. Sobretudo, a absurda constatação
de que este é muito
mais um desejo de que aconteça,
trombeteado como verdade por certos veículo
de comunicação,
do que uma realidade palpável,
politicamente razoável
e conforme o direito. Veja-se o exemplo recente da Rede Globo: o tom tendencioso contra o
governo Dilma, Lula e o PT, prefigurado nas reportagens de seus comunicadores,
atingiram patamares inimagináveis
de agressão
à ética.
No entanto, quando parcela significativa do empresariado brasileiro, através de suas entidades representativas
(FIESP e FIJAN), resolveu recentemente puxar o freio e se solidarizar com o
governo, por constatar que a arenga política
que resultou da derrota de Aécio
Neves está destruindo
a economia brasileira, a Globo arrefeceu seus ânimos e voltou à
razão.
Voltou a fazer algum jornalismo. Menos mal.
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