domingo, 23 de agosto de 2015

Artigo de Paulo Afonso Linhares

DE FATOS E DESEJOS

Paulo Afonso Linhares

As manifestações contra o governo Dilma, marcadas para o dia 16 de agosto deste ano de 2015, se transformaram na grande esperança dos setores que incansavelmente desejam um terceiro turno, ou quiçá um quarto, das eleições presidenciais de 2014, nem que para isso possam incendiar irremediavelmente está nação. Para os que planejam ou torcem ardorosamente pelo defenestração da presidente Dilma,  o que faltava para colimar esse objetivo estaria colocado nas ruas deste país, ou seja, seria  a vez do movimento popular fazer o que o senador Aécio Neves não conseguiu através das urnas de 2014. No entanto, a coisa não funcionou conforme o planejado: faltou gente nas ruas, como faltaram votos para levar o tucano mineiro ao Palácio do Planalto, gerando neste caso irada frustração de segmentos políticos mais conservadores encastelados no mundo financeiro, no empresariado da indústria e do agro-negócio, além dos poderosos baronatos da imprensa brasileira.

Antes de discutir a temática das manifestações programadas pelos opositores políticos de Dilma, Luta, PT & Cia.,  é imprescindível notar que a partir do final de junho deste ano de 2015, a ideia de apear do poder a atual  inquilina do Alvorada tem perdido substância a partir de um reposicionamento dos principais apoiadores da aventura política encetada  por essa porção mais radicalizada do bloco oposicionista e que é exibe a digital do próprio Aécio que, aliás, em momento algum inspirou confiança. Fragilizou essa posição igualmente o não apoio ao impeachment de figuras dos portes do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador José Serra, ambos tucanos de vistosas plumagens. Certamente eles avaliaram o enorme risco que envolveria essa ação política, cujos imprevisíveis resultados poderia apontar inclusive  (por paradoxal que pareça) para o fortalecimento de lideranças petistas. Melhor deixar quieto, devem ter imaginado.

E por que o povo não apoia o impeachment de Dilma? Por que, afinal, não foi para as ruas no dia 16 de agosto, a despeito da baixíssima popularidade da presidenta captada pelas pesquisas de opinião? Ora, o presidente da República não pode ser punido por impopularidade, mas, por crime de responsabilidade, como reza a Constituição. Que fez Dilma para receber a reprimenda extrema que é o impeachment? Contra ela sequer houve, até o presente momento, a imputação de algum dos crimes de responsabilidade previstos no art. 85 da Constituição. E não adianta ficar a falar bobagens, como fazem alguns (grandes) veículos de comunicação, desejosos em ver pelas costas a presidenta Dilma; a apuração de crime de responsabilidade de presidente da República deve observar o devido processo que está prefigurado no art. 86, da Lei Maior.

O "jornalismo desejoso", para usar a feliz assertiva do saudoso jornalista Nilo Santos, é uma das pragas que grassam nas sociedade atuais, em especial naquelas em que impera a frouxidão ética típica da imaturidade de suas instituições jurídico-políticas. À imprensa não cabe fazer fatos, mas, divulgá-los na exatidão de suas circunstâncias. Por isto é que as colocações que têm aparecido nos grandes veículos de imprensa deste país nada mais são que ações panfletárias de combate político, algo descabido no figurino ético que norteiam a atividade jornalística dos povos civilizados.


O quê, afinal,  tem isto com o impeachment de Dilma? Muita coisa. Sobretudo, a absurda constatação de que este é muito mais um desejo de que aconteça, trombeteado como verdade por certos veículo de comunicação, do que uma realidade palpável, politicamente razoável e conforme o direito. Veja-se o exemplo recente da Rede Globo: o tom tendencioso contra o governo Dilma, Lula e o PT, prefigurado nas reportagens de seus comunicadores, atingiram patamares inimagináveis de agressão à ética. No entanto, quando parcela significativa do empresariado brasileiro, através de suas entidades representativas (FIESP e FIJAN), resolveu recentemente puxar o freio e se solidarizar com o governo, por constatar que a arenga política que resultou da derrota de Aécio Neves está destruindo a economia brasileira, a Globo arrefeceu seus ânimos e voltou à razão.  Voltou a fazer algum jornalismo. Menos mal.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários críticos sem identificação não serão aceitos.