domingo, 1 de novembro de 2015

Artigo de Paulo Afonso Linhares

A VEZ DA UERN

Paulo Afonso Linhares 


Aos que tem por ofício a escrita como instrumento de debate de ideias, por vez alguns assuntos parecem incômodos, sobre os quais se aplica a regra atribuída a Romolo Nilanzio, glosador medieval, para quem “é perigoso falar e um tormento calar”. Et loqui poena est et reticere tormentum.

Hoje, talvez bem mais fácil e prazeroso (para o leitor, claro) seria falar sobre as estripulias do deputado Eduardo Cunha, que está numa “peinha de nada” para ser defenestrado do cargo de presidente da Câmara dos Deputados, a crise econômica que embora seja quase que meramente psicológica serve de pretexto para as coisas mais diversas ou mesmo as dificuldades que a presidenta Dilma tem de se mantar da sela desse touro “Bandido” que sintetiza a aliança prefeita dos grandes conglomerados de comunicação etc. Não, a despeito das grosseiras diatribes de ilustres jornalistas/blogueiros da capital, prefiro encarar algumas questões cruciais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, doravante apenas aqui referida por Uern. Os cachorros são furiosos e devemos ter cuidados com eles – cave canum! – mas, temos o dever de encará-los.

Uma greve de cinco meses foi o risco (enorme) a que se expuseram seus professores e servidores técnico-administrativos. De princípio, ressalte-se que na queda de braço que se seguiu, ambas as partes perderam a oportunidade, ao lado da discussão acerca de aumentos salariais, de travar uma discussão acerca do papel da Uern no desenvolvimento deste Estado. Claro, não basta esbravejar bobagens como fizeram alguns comunicadores palacianos a respeito do seu custo anual – em torno de R$ 300 milhões – que esta muito aquém da relação custo/benefício se feita comparação com instituições congêneres federais. Na verdade, pelo que tem realizado nas quatro últimas décadas, em sua tríplice missão – ensino, pesquisa e extensão – a Uern custa uma merreca ao povo do Rio Grande do Norte. Ora, desde a fundação da mais antiga universidade do mundo ocidental, a vetusta Università di Bologna, em 1088, uma das características marcantes dessas instituições é a sua visceral vinculação a propósitos definidos como fundamentais pelas comunidades que as instituem.

A Uern não foge a esse figurino, a despeito das agressões grosseiras de que tem tido vítima. Os seus agressores mais contumazes agem como aqueles acólitos do Estado Islâmico ou os ridículos talibãs que explodem relíquias históricas importantes pelo simples prazer de mostrar que podem mais. Definitivamente, é um bem estratégico para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte, mesmo que por vezes alguns de seus servidores (docentes e técnico-administrativos) equivocadamente perdem a noção desse papel importantíssimo da instituição a que servem. Na recente greve de quase seis meses isto ficou mais do que patente.

Entretanto, inútil é resumir tudo a estéreis lamentações do que poderia ter sido e não foi. Os que fazem a Uern têm um dever a cumprir com aqueles que a mantêm, o povo do Rio Grande do Norte: se debruçar sobre essa instituição para redefinir o seu papel no atual momento da existência deste Estado federado e como poderá ela contribuir para o desenvolvimento de sua brava gente. Sem medo de ousar e ser feliz. Simples assim.

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