segunda-feira, 27 de julho de 2015

Sobre a apreensão de 50 ônibus em Natal e sua cobertura jornalística

IMPRENSA QUE ADORA REPRESSÃO

Giuseppi Costa
Professor da UFRN e advogado

Sedimentada na cultura das ditaduras que mandaram no país durante praticamente toda sua história, a imprensa brasileira tem uma paixão avassaladora por atos repressivos cometidos por agentes do estado.
Pouco importa se tais atos sejam ou não justos, nem que afetem de alguma maneira, mesmo que para pior, a vida de grandes comunidades, ainda que das mais carentes e necessitadas.

É o que se tem visto no dia de hoje com a apreensão dos cerca de 50 ônibus de uma empresa de transporte coletivo de Natal, todos bloqueados porque encontrados com várias irregularidades.
Os telejornais locais transmitem a notícia com um ar de satisfação que beira a euforia e as entrevistas com os representantes do órgão repressor - A Polícia Rodoviária Federal - são para rasgos de elogios gratuitos, deixando os entrevistados como que já alçados ao nível de grandes heróis desta terra de camarões.
A vibração se torna tão intensa que, em nenhum instante das notícias, resta demonstrada qualquer preocupação com a vida sofrida dos dependentes do transporte coletivo, já extremamente deficiente, mesmo com os 50 ônibus em funcionamento.
Que se lixe esse povinho! O bonito é mostrar a filona dos "bichões" parados. Longa e linheira.
A esta altura, sei que muitos já se perguntam: e esse idiota queria que os ônibus continuassem a rodar de modo irregular, pondo em risco a vida e a saúde dos mais necessitados?
Já respondo: não. Jamais poderia ter pensamento tão desastrado.
Mas avalio que o órgão repressor poderia alcançar o mesmo objetivo, evitando a fila bonita. De que maneira? Fazendo a blitz, aplicando as multas e concedendo 5 dias para que fosse tudo definitivamente corrigido. Ou não? Os usuários não sofreriam mais do que já penam; os infratores sofreriam as mesmas punições; e as correções viriam do mesmo jeito que virão.
E os usuários? Não penariam mais do que já sofrem.
Mas não se veriam as longas e bonitas filas a encantarem nossa imprensa.
É triste. Mas é verdade.

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