A VEZ DAS RUAS?
Paulo Afonso Linhares
A oposição antipetista perdeu a eleição presidencial de 2014, porém, não se conformou e insiste num terceiro turno que teria como base a derrubada do atual governo através de um impeachment da presidente Dilma. Assim, nada mais de quartelada, putsch ou qualquer outro modo violento de subversão da vigente ordem constitucional: noutras palavras, todos no caminho da lei, para lembrar a consigna muito usada por Adolf Hitler na sua trajetória para conquista do poder supremo na Alemanha. Claro, a consecução desse objetivo pode levar a rumos sequer desejados pelos idealizadores explícitos ou dissimulados de várias ações que, no seu conjunto, vem desestabilizando seriamente não apenas o governo Dilma, mas, impondo igualmente sérios revezes à economia.
O pano de fundo não poderia ser mais adequado: o mega escândalo de corrupção na Petrobrás, a partir do qual a oposição ressentida e apoiada pela longa mano dos grandes conglomerados da comunicação (leia-se Rede Globo de Televisão, jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, a revista Veja etc.), pretendem fulminar o Partido dos Trabalhadores a partir de decisão judicial centrada no suposto abuso de ter essa organização recebido dezenas de milhões de reais, segundo dizem os delatores premiados, pagos como propina por empreiteiras da estatal. Aliás, percebe-se a clara intenção de se envolver a organização partidária (o PT) como um todo e não pessoas físicas específicas. Ora, atingido que seja esse partido, que é o segundo maior do país, todos os seus filiados detentores de mandatos eletivos ficarão em situação jurídica muito difícil, sobretudo, a sua mais ilustre militante, neste momento, que é a presidente da República.
A oposição se lança em ação política mais audaciosa, com a promoção de atos de protesto em todo o país, neste dia 15 de março de 2015. A sua ousadia repousa justo no enorme risco que envolve manifestações de rua desse feitio. Aliás, é previsível a infiltração de pessoas nas movimentações de rua com o objetivo de promover ações violentas contra o patrimônio público e privado (do tipo quebra-quebra), ademais do enfrentamento com as forças de segurança. Ressalte-se, contudo, que o protesto pacífico, sem apelo à violência, faz parte da vivência democrática e até tem garantia específica na Constituição da República.
Por isso é que os idealizadores dos protestos contra o governo Dilma têm que evitar resvalem essas manifestações de rua para batalhas campais e indesejáveis exibições de vandalismo, a exemplo das cenas constrangedoras protagonizadas pelo Black Blocs (pessoas mascaradas e armadas de paus e pedras) que amedrontaram as principais cidades brasileiras em 2013. Ressalte-se, aliás, a utilização intensa de mídias informacionais (as rede sociais) na convocação tanto das movimentações políticas pró-governo Dilma, ocorrida na sexta-feira, 13 de março, quanto dos protestos contra esse mesmo governo.
Aqueles que pensam linearmente imaginam que poderão repetir-se os efeitos do movimento dos caras pintadas que deflagrou a derrocada política do governo Collor. E a História poderá repetir-se, neste caso, apenas como farsa... A conjuntura é outra, o Brasil mudou demais de lá para cá. Uma radiografia, posto que ligeira, da composição social do movimento de rua contra o governo Dilma mostra inequívoco envolvimento da classe média alta. A maior parcela da população não participa dessas refregas de ruas, nem contra nem a favor, embora esteja insatisfeita com os resultados econômicos desfavoráveis. Fechado que seja mais esse capítulo do confronto entre governo e oposição, a luta continua no front parlamentar, tendo como palco a CPI da Petrobrás. A novela continua, neste país dos folhetins. Vejamos aonde chegará.
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