A LISTA DE JANOT
Paulo Afonso Linhares
Em muitas situações da vida as listas mexem com as cabeças das pessoas, inclusive, naqueles casos em que
se nominam até os que literalmente podem perder as cabeças. Neste modelo, certamente tornou-se famosa e não menos temível a lista que carregava no bolso do colete
Louis Antoine Léon de Saint-Just, revolucionário francês eleito membro do Comitê de Salvação Pública, em 1793, quando sem destacou como implacável acusador dos nobres aprisionados durante a
Revolução Francesa e, por fim, guilhotinados às pencas naquele período denominado como “Terror”. Foi o enorme talento retórico do sectário Saint-Just, apelidado como “Arcanjo da Revolução”, que levou à guilhotina o rei Luís XVI, a rainha Maria Antonieta e outros tantos
de “sangue azul” (“não se pode reinar inocentemente” e “todo rei é um rebelde ou um usurpador”, repetia ele). Sua lista era temida e ninguém queria dela fazer parte, até que chegou o 10 Thermidor (décimo-primeiro mês do Calendário Revolucionário Francês, que vigorou de 22 de setembro de 1792 a 31 de dezembro de 1805, e
correspondia ao período entre 19 de julho e 17 de agosto do Calendário Gregoriano), quando “L'archange de la Terreur”, com apenas 26 anos de idade, junto com outros
partidários de Maximilien Robespierre, teve o mesmo trágico e patético fim de tantos que condenou à guilhotina.
Entretanto, noutra lista famosa todos queriam
entrar: a Lista de Schindler. Com efeito, num gesto inexplicável, o Oskar Schindler, o industrial alemão, espião e membro do Partido Nazista, salvou da morte,
em campos de concentração, mais de 1200 judeus que empregou em sua fábrica de esmaltes e munições, instalada em Cracóvia, durante a Segunda Guerra Mundial e que
compunham uma lista de pessoas por ele requisitadas às autoridades nazistas para trabalhar naquela
unidade industrial que fazia parte do esforço de guerra alemão. Na verdade, de princípio ele queria apenas explorar a mão de obra judia, bem mais barata, embora tenha
posteriormente aderido à causa da salvação daqueles que, no futuro, passariam a ser
conhecidos como os “judeus de Schindler”. Herói do povo judeu, Schindler tem protagonizado várias obras artísticas e científicas, inclusive o famoso filme de Steven
Spielberg, A lista de Schindler, ganhador de sete Óscares, inclusive o de melhor filme, ademais de merecer
o título que lhe deu o Estado de Israel de
"Justos entre as nações".
Essas listas, uma ruim e outra boa, são lembradas, aqui, apenas para enfatizar a
expectativa que tem causado a divulgação da lista com os nomes de (mais ou menos quarenta) personalidades políticas brasileiras supostamente envolvidas no
megaescândalo da Petrobras, recentemente encaminhada pelo
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com pedido de abertura de investigação, ao ministro Teori Albino Zavascki, do Supremo
Tribunal Federal, relator dos processos que envolvem a chamada “Operação Lava-Jato”, que investiga a corrupção ocorrida na maior empresa estatal brasileira.
É a “lista de Janot” - na verdade - são 28 pedidos de abertura de inquéritos contra 54 pessoas, algumas com mandatos
parlamentares outras não, porém, que teriam sido beneficiárias do esquema de desvio de recursos da
Petrobras, feitos pelo procurador-geral da República à frente de uma força-tarefa formada por mais 11 procuradores da República – que está a tirar o sono de muita gente. Por expressa determinação legal, coube ao
ministro Zavascki divulgá-la ao tempo em que autorizou a abertura dos inquéritos. E o fez na noite de sexta-feira, dia 6 de
março de 2015. Curioso é que a Lista de
Janot, além do galicismo do nome, tem muito a ver com
Saint-Just e nada com Schindler. Todavia, acarretará muitos transtornos aos envolvidos, mormente, os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, Eduardo
Cunha e Renan Calheiros, aliás, este já um veterano neste
tipo de investigação.
Por enquanto, a Lista de Janot causa enorme frisson nos meios políticos da capital da República, mesmo antes da divulgação oficial, já que se constituiu um autêntico segredo de Polichinelo, porquanto houve
vazamento acerca de todos os ilustres nomes nela perfilados, em especial, os
dos atuais presidentes da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e do presidente do Senado Federal, Renan
Calheiros, antes referidos. A surpresa ficou por conta dos nomes excluídos da poderosa lista, com destaque para os de Aécio Neves e Henrique Eduardo Alves que, embora
citados na delação de Paulo Roberto Costa, não tiveram
indiciamentos pedidos por Janot.
No mais, a lista atinge em cheio a base parlamentar
da presidente Dilma Rousseff, quando arrola políticos do PP, PMDB e PT, embora haja alguns ligados à oposição, a exemplo do senador mineiro Antônio Anastasia. Que vai sair fumacinha preta nos céus de Brasília, isso vai. Curiosa a coincidência, com lembra o jornalista Ricardo Rosado, em nota publicado no blog Fator RH, de que nessa lista
figurem os senadores Fernando Collor de Mello e Lindberg Farias, entre os
beneficiários dos recursos desviados da Petrobras: Collor
foi apeado da presidência da República através de impeachment, acusado de corrupção; o jovem senador Lindberg Farias (PT-RJ) foi um dos principais líderes do movimento estudantil dos caras-pintadas
contra o então presidente Fernando Collor de Mello. Agora, ao
que parece, companheiros de infortúnios dividirão o mesmo banco dos réus. Aliás, todo esse imbroglio que abala esta República tupiniquim nos remete àquela sentença de Marcus Tullius Cicero, na sua Primeira
Oração contra
Catilina: “O tempora, o mores! Senatus haec intellegit” (“Ó tempos, ó costumes! O Senado sabe dessas coisas.”). Nós outros, comuns mortais, também merecemos saber.
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