segunda-feira, 30 de março de 2015

Prático que livrou Recife de uma tragédia, há 30 anos, é desomenageado

A história recente do Recife seria marcada por uma grande tragédia se não fosse a coragem e determinação de um prático, uma espécie de guia de embarcações, chamado Nelcy da Silva Campos. No dia 12 de maio de 1985, ele evitou que parte da cidade fosse varrida do mapa ao rebocar para longe da costa o navio Jatobá, que pegou fogo no Porto do Recife e cujas chamas ameaçavam explodir o Parque de Tancagem do Brum, onde estavam armazenados 153 mil metros cúbicos de produtos inflamáveis. De acordo com os técnicos, uma explosão no local destruiria tudo num raio de cinco quilômetros, atingindo os bairros de Santo Antônio, Recife Antigo, Boa Vista, Brasília Teimosa e Pina. Quase 30 anos depois, busto em homenagem ao “Herói Pernambuco Contemporâneo”, como Nelcy Campos ficou conhecido, está no esquecimento. 
A situação de risco começou por volta da 1h30 da madrugada de um domingo, quando um dos três tanques do navio petroleiro Jatobá explodiu, deixando a embarcação em chamas. Atracado no Porto do Recife, o navio carregava 1.500 toneladas de gás butano, conhecido como gás de cozinha. O pior é que o incêndio e as explosões em série poderiam atingir o Parque de Tancagem do Brum, que estava a 500 metros do petroleiro e armazenava mais de cento e cinqüenta mil metros cúbicos de produtos inflamáveis. 
Todo o efetivo do Corpo de Bombeiros do Recife foi mobilizado para combater o incêndio, mas os homens não conseguiram debelar as chamas, que chegavam a 20 metros de altura. A situação era tão grave que o então governador de Pernambuco, Roberto Magalhães, foi acordado às presas e teve que deixar o Palácio do Campo das Princesas, onde morava, localizado no Bairro da Boa Vista. 
Foi nessa situação que o prático da Barra do Recife Nelcy da Silva Campos, então com 54 anos, foi chamado às pressas em sua casa pelas autoridades responsáveis pela Capitania dos Portos. Ele chegou ao porto por volta das duas horas da manhã e, com a ajuda de alguns auxiliares, começou um perigoso trabalho. Distribuindo as ordens, chegou a serrar dois dos nove cabos do navio petroleiro, que estava ancorado no Armazém A-1. 
Um desses cabos, que foi amarrado a outro de 200 metros, serviu para prender o petroleiro no reboque Saveiro. Para que a saída do Jatobá fosse possível também foi preciso movimentar os navios que estavam na frente e atrás dele. Só depois desse difícil trabalho, a embarcação em chamas pode ser rebocada para alto mar, onde não representava mais perigo para os recifenses. O petroleiro foi deixado à deriva a cerca de cinco quilômetros da costa. 
Ao voltar ao porto, já na manhã da segunda-feira, dia 13 de maio, Nelcy Campos foi recepcionado pelo governador Roberto Magalhães, pelos amigos e pela família, que esperava ansiosa. Ao chegar, ele declarou: “Nunca me vi em situação tão difícil e perigosa, mas pensei logo na população. Mesmo sabendo que poderia morrer, parti para a operação”. 
No dia 29 de setembro de 2003, Nelcy Campos foi homenageado em uma cerimônia alusiva ao Dia Mundial do Marítimo. O Comando do 3º Distrito Naval da Marinha do Brasil mandou erigir um busto de mármore em sua homenagem, junto ao Terminal Marítimo de Passageiros, na Praça do Marco Zero. Com a reforma do Porto do Recife, a estátua, obra do escultor pernambucano Demétrio Albuquerque, foi tirada do local e não se sabe, oficialmente, qual destino foi dado ao busto.   
Nelcy da Silva Campos nasceu no Recife no dia 21 de janeiro de 1931. Trabalhou durante 25 anos como prático da Barra do Porto do Recife, ofício que aprendeu com o pai. Morreu no dia 27 de setembro de 1990, de causas naturais.
Texto encaminhado via email por Pedro Romero.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários críticos sem identificação não serão aceitos.