domingo, 27 de outubro de 2013

Artigo da Paulo Afonso Linhares

ELEIÇÕES 2014: O XADREZ 
DA POLÍTICA POTIGUAR

Paulo Afonso Linhares

“João amava Teresa que amava Raimundo / que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili/que não amava ninguém./ João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,/ Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,/ Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes / que não tinha entrado na história.” Este singelíssimo verso de Drummond, do poema intitulado "Quadrilha", faz lembrar o samba de crioulo doido que é a política do Rio Grande do Norte em vista das eleições (quase) gerais de 2014, quando serão renovados os mandatos de todos os deputados federais e estaduais, 1/3 dos senadores, do presidente da República e seu respectivo vice-presidente.

Substituindo-se os termos dessa equação poética, isto é, os nomes das personagens drummondianas pelos de políticos bem conhecidos nestas terras do índio Poti - e nem precisaria mudar o nome do poema... - fica fácil de entender a dinâmica dos diversos grupamentos políticos e lideranças no azáfama da preparação das candidaturas para os diversos postos eletivos às eleições de 2014. Claro, tudo a partir do zero: os correligionários e aliados de ontem podem não ser os dessa próxima caminhada; os adversários e desafetos de ontem talvez sejam os grandes parceiros nessa nova travessia periodicamente imposta pelo regime democrático. Afinal, não há amor que dure para sempre, nem ódio que nunca acabe. E com os políticos de todas as latitudes e extrações, inclusive os potiguares, isto é até mais verdadeiro.

As peças do xadrez - este na acepção mesma daquele jogo em que reis, rainhas, bispos cavaleiros, torres e peões, participam de intrincadas disputas de inteligência e perspicácia... - começam a ser movimentadas no tabuleiro da política potiguar. Embora sejam os primeiros movimentos, já são perceptíveis os rumos que tomarão lideranças expressivas e outras sem qualquer expressão. Claro, como sempre ocorre (ou "sói acontecer",  como se dizia na linguagem pedante de tempos idos), o sonho de consumo de muitas dessas lideranças é montar um projeto que facilite-lhes a vida e permita o desfrute do poder, embora com custos de campanha reduzidos.  A partir daí, tudo passa a ser possível e permitido: alianças políticas estranhas para agasalhar interesses os mais diversos de grupos políticos e de lideranças individualmente consideradas, tudo para perpetuação de certas relações de mando e uns tantos privilégios. No jargão da política local, esse nirvana atende pelo nome grosseiro e vulgar de "chapão".

Sim, todas as inúmeras conversas que marcam essa fase inicial do processo político de 2014 - onde "todo o mundo conversa com todo o mundo" - confluem preliminarmente para a formação de um verdadeiro "chapão" que contemplaria muitos grupamentos políticos e respectivas lideranças. Claro, pensar em "chapão" pressupõe decidir que certos grupos,  partidos e lideranças ficam de fora do festim do poder, no "sereno" nem tanto assim obsequioso; são os "naufragados" em algum desastre político, administrativo ou até  sendo personagem da crônica policial. Os "chapões" tão ansiados geralmente não dão certo por uma simples razão: as lideranças políticas se "esquecem" de combinar, também, com o povo que, sendo o dono do voto, muitas vezes decide de outro modo.

O "chapão" que se pretende montar para as eleições de 2014, no RN, iria do DEM ao PT, passando pelo PMDB (que lideraria a aliança, cabendo-lhe indicar o candidato a governador), PSB, PR, PDT, PTB e o novíssimo PROS, que não tem nada contra, "muito porém pelo contrário"...  Nomes? Sim, esse "chapão" que já ocupa alguns corações e mentes tem como candidato a governador o empresário e ex-senador Fernando Bezerra, cujo vice seria dado pelo PT de Fátima Bezerra/Fernando Mineiro ou pelo PSB de Wilma de Faria; para a (única) vaga de senador disputam a indicação  Fátima Bezerra e Wilma de Faria, ambas com bons cacifes hauridos dos resultados das primeiras pesquisas eleitorais até agora divulgadas, porém, a decisão de quem fica e de quem "dança" nessa história dependerá em muito de injunções externas, de Brasília e alhures; candidatos a deputados federal, a começar pelo atual presidente da Câmara de Deputados, Henrique Eduardo Alves, participariam de uma enorme coligação que, por baixo poderia eleger até seis deles, valendo o mesmo procedimento para a coligação de deputados estaduais. Claro, tudo daria certo se combinado e, sobretudo, aceito pelo povo.


Nessa "invencível armada" (ou seria "armação"?) não haveria lugar para a atual governadora Rosalba Ciarlini Rosado, cujo governo enfrenta dificuldades e desacertos irremediáveis, nem para o seu atual vice (e desafeto político), Robson Faria, que vem construindo a ferro e fogo uma candidatura a governador, sem combinar com outros caciques da política potiguar, nem com o povo.  São os dois que não entrariam nessa história. Se abrir mão dessa pretensa candidatura a governador, Robson Faria poderá ganhar espaço nesse "chapão", capaz de recolocá-lo na Assembleia Legislativa do RN e garantir a reeleição do deputado federal Fábio Faria. Aliás, Rosalba sequer teria legenda para disputar a reeleição, face às desavenças que a separam, atualmente, do seu correligionário senador José Agripino Maia, cuja pretensão política já  confessada, para 2014,  é reeleger o filho, deputado federal Felipe Maia. Enfim, são caminhos e veredas para todos os gostos e desgostos. Vejamos no que dará esse balaio de gatos.

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